segunda-feira, 11 de março de 2013

8 de março: Santa Maria recebe a Lola

Ela já sofreu ameças de processo do jornalista Marcelo Taz e do filósofo e sociólogo Olavo de Carvalho simplesmente porque publicou suas opiniões no blog "Escreva Lola Escreva". Dolores Aronivich, a Lola, esteve em Santa Maria no dia 8 de março para participar da programação do Dia da Mulher. A palestra foi uma iniciativa da Assufsm, NEMGeP (Núcleo de estudo sobre mulheres, gênero e políticas públicas do curso de Enfermagem da UFSM) e Marcha das Vadias de Santa Maria. 


Aula pública com Lola ocorreu na Antiga Reitoria 

Devido ao mau tempo, a atividade, que estava programada para ocorrer na Praça Saldanha Marinho, foi transferida para uma sala da Antiga Reitoria. O tema da aula pública era "8 de março: o que comemorar?". Para Lola, o institucionalizado dia da Mulher é um dia de luta, de protesto, mobilizações e palestras, por isso é que se faz a crítica a campanhas e propagandas que associem à mulher aos velhos clichês e estereótipos femininos como fez a Prefeitura de Porto Alegre. "É importante não deixar que o capitalismo pegue a data para si", alertou. 
E isso é o que mais se vê no 8 de março, as instituições, empresas e sociedade de modo geral se apropriando da data mercadologicamente, sem problematizar, sem refletir, sem fazer qualquer referência à história de luta que origina a data. “Comemoramos esta data há mais de cem anos e as origens dela vem de uma luta, de um protesto operário”, afirmou Lola. Em 1911, uma fábrica têxtil foi incendiada em Nova York matando 149 mulheres que protestavam por melhores condições de trabalho. A partir deste fato, o dia da mulher, 8 de março, passou a ser celebrado mundialmente.

Lola, professora e blogueira, fez um breve histórico sobre a luta feminista no Brasil, relembrando a conquista do voto feminino (que no Brasil fez 80 anos em 2012), a lei do divórcio (1977), as delegacias da Mulher (a primeira foi inaugurada em SP, em 1985), o surgimento da pílula anticoncepcional, entre outros fatos que mudaram a vida das mulheres. Entre outros episódios marcantes, o lançamento, em 1949, do livro "O Segundo Sexo", de Simone de Beauvoir, e a ideia de que não se nasce mulher, mas torna-se uma. Também nos anos 60 tiveram inícios as discussões sobre os papéis de gênero como construções sociais e não como algo determinado geneticamente ou naturalmente.

Lola destacou ainda que a ciência sempre foi uma aliada do conservadorismo e que a psicologia evolucionista, por exemplo, reforça estereótipos e justifica comportamentos machistas; “É este tipo de ciência que até hoje tem lugar na mídia. Infelizmente hoje estamos muito próximos ao conservadorismo dos anos 80”.



Violência - Lola forneceu dados que mostram o alto índice de violência que ainda atinge as mulheres. Sete em cada dez mulheres no mundo são vítimas de violência física, o que pode ser considerado uma pandemia. No Brasil, nos últimos quatro anos, o registro de estupro cresceu 157%, número que é assustador, mas que ao mesmo tempo sinaliza o aumento das denúncias registradas. Segundo ela, os índices de feminicídio - termo que a mídia e as autoridades evitam - são ainda muito altos, pois mais de 4 mil mulheres são assassinadas no Brasil a cada ano; 28% dos assassinatos no Brasil ocorrem dentro da casa destas mulheres vítimas; 5 mulheres são agredidas fisicamente a cada dois minutos no Brasil.

Além disso, no Brasil, as mulheres ainda vivem numa sociedade que paga 30% menos do que em relação aos homens. Nas cem maiores empresas do país, apenas 5% são comandadas por mulheres. Se o cálculo for em cima das 450 maiores empresas, este número cai para 3%.


Denúncias de violência aumentaram no País, mas número de vítimas ainda é alto


Conquistas - Lola citou como conquista importante das mulheres a Lei Maria da Penha, considerada uma das melhores leis do mundo de proteção às vítimas de violência. As denúncias vem aumentando pelo  número 180. Além disso, ela também citou o bolsa-família como outra conquista importante para a redução da desigualdade de gênero. Como blogueira que trata os direitos da mulheres entre seus principais temas de escrita, Lola ressaltou ainda que as redes sociais são poderosos instrumentos de mobilização e de voz dos movimentos sociais.

Mesmo com alguns avanços na legislação, como a lei Maria da Penha, Lola ressalta que há muitas coisa que não depende de leis para mudarem; "É a família, os nossos preconceitos, há muita coisa que depende de nós mesmas, fazendo um serviço de forminguinha conversando, debatendo, tomando os espaços."


Lola também participou de atividades de formação feminista junto com movimentos da UFSM e Marcha das Vadias

No cenário político, Lola criticou o governo Dilma em relação ao debate sobre o aborto. Para ela, o governo ignora o assunto e se omite a fim de não comprometer alianças e evitar problemas com vários setores da sociedade que são contra a descriminalização. "Não houve debate na campanha de 2010, mas uma condenação do aborto".  

Lola ainda destacou que, apesar de achar problemático o nome, a Marcha das Vadias é uma mobilização importantíssima principalmente pela quantidade de jovens que vem agregando. Ressalvou que a Marcha ainda carece de mais comunicação com a sociedade, até para que ela não se confunda com o movimento Femen  considerado por ela como apolítico. "A mídia dá muito espaço para o Femen e associa o movimento como única forma de feminismo, o que é ruim".
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Da fala de Lola e das perguntas e manifestações do público, que se seguiu, ficou a certeza da necessidade e importância de, para além do dia 8 de março, realizar discussões e mobilizações sobre as questões de gênero, os direitos da mulher e o combate à violência.

E sobre o 8 de março, aqui vai um texto interessante. A Revista O Viés também publicou uma entrevista com a blogueira.

Ainda bem que o Brasil tem uma Lola, que corajosamente, escreve sobre temas fundamentais no seu blog. Lola escreve de forma séria, contundente, e com muita propriedade; ao mesmo tempo, mantém em seus textos uma leveza e um bom humor que com certeza a ajudam a suportar os seus trolls e leitores agressivos, sempre presentes nos comentários de suas postagens.

Escreva, Lola, Escreva.

Um comentário:

  1. Pouco debatido, mas necessário, é o machismo entre as mulheres. Não sei os números da estatística, mas ressalta na sociedade esse comportamento. Levando em consideração o número de mulheres eleitoras, era para termos muito mais mulheres nos partidos políticos e consequentemente eleitas em grande número. Acredito que mesmo aumentando o número de mulheres candidatas, não haverá aumento proporcional em relação à eleitas. Eu não tenho dúvida na eficiência da mulher em cargos de comando, em grandes responsabilidades e na criatividade laborativa.

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