Demorou anos, mas eu consegui me formar em Letras na Universidade Federal de Santa Maria. Um curso que foi muito importante pra minha formação. Quando ingressei no curso, a intenção era me aprofundar no estudo da língua portuguesa e aprender línguas estrangeiras. Foi a saída que encontrei para não ter que pagar por cursos particulares de línguas; mas é claro que não foi só isso o motivo. Meio aos trancos e barrancos, consegui fazer as mil disciplinas e exigências do curso. Poderia ter sido melhor, sim. Fiz o curso de Letras ao mesmo tempo que cursava Jornalismo e depois ao mesmo tempo em que trabalhava. Sufoco puro e a sensação de que não me dediquei, não estudei o suficiente, enfim, não aproveitei o curso. Consegui me formar em Letras Português- Inglês em 2007. Não me arrependo de ter parado com outras atividades pra conseguir concluir essa graduação. Sempre digo que o curso de Letras, pelo menos na UFSM, não é tão difícil de entrar, mas é dificílímo de sair, de se formar. Tive que ralar!
Com esta licenciatura, pude me inscrever no concurso do Magistério em 2012. Sem pensar muito, sem muita vontade de ter uma carreira como professora do Estado, sem estudar, fui fazer a prova e acabei sendo chamada em novembro para assumir o cargo. A única experiência docente em escola que eu tinha tido foi no estágio curricular das Letras em que dei aulas de português para uma turma de ensino médio e inglês para uma 8ª série. E foi em dupla.
Enfim, totalmente perdida, no meio do mês de novembro, final do ano letivo, assumi uma turma do terceiro ano, para lecionar português (tranquilo) e SEIS turmas de primeiro ano para lecionar literatura na Escola Coronel Pilar (FOTO), em Santa Maria. Aí foi punk!. Mal me apresentaram a escola. Não me explicaram a política pedagógica. Muita simpatia mas orientação zero. As turmas de literatura ficaram quase 3 meses sem aula da disciplina e estavam há 2 ou 3 semanas tendo aula com uma professora que, como uma das atividades principais, passou o filme "Tudo sobre minha mãe" para eles. Pois é! O quadro não era nada animador. Eu teria somente um mês de aula e uma avaliação trimestral pra fazer.
O que se pode fazer em uma hora/aula por semana de literatura? quase nada...Os alunos não quiseram fazer nada relacionado com o filme. Relataram que não gostaram, não entenderam... Bom, eu não os culpo porque se fosse eu não teria passado este tipo de filme pra eles, apesar da achar excelente esse longa do Almodóvar.
Imaginem cada turma com vinte e poucos alunos de 14 a 16 anos enfiados numa sala de aula quente em pleno novembro e dezembro! Fim dos tempos!!!!
Fiz uma breve consulta pra saber o que eles estava lendo. Pouca coisa de bom saiu. A maioria respondeu que não gostava de ler, o que já era uma resposta esperada. Eles adoram dizer coisas que odeiam.
Dar outra leituras? que jeito, não tinha tempo pra isso. Além do mais, no início do ano, eles já haviam recebido a tarefa de ler um livro. E foi um sufoco, pelos relatos que deram. Então trabalhei um pouco com figuras de linguagem, dando continuidade ao que a professora anterior estava abordando e fiz eles escreverem uma narrativa de tema livre. Foi interessante ler os textos. Alguns horríveis, outros meia boca, outros excelentes. O imaginário deles é muito engraçado e com frequência reflete o imaginário senso comum. Li muitos textos sobre histórias de amor, relacionamentos juvenis, encontros e desencontros dos pares românticos, amor pra vida toda, amores impossíveis, a morte. Notei também muita coisa da vida deles naqueles textos, histórias sobre ir a escola, sobre amizades e familiares. Poucos se aventuraram no sobrenatural, no absurdo, na invenção de situações inusitadas.
Tentava pensar sobre o que é o espaço de uma sala de aula. É um mundo complexo de diversidades, de individualidades, intenções e corpos muito diferentes, tudo isso junto num mesmo espaço fechado, quadrado, sufocante! é maluquice!
Mas tive ótimos momentos com os alunos. Aliás, os momentos mais interessantes foram as conversas com eles, antes, durante e após a "aula". Entrar um pouquinho no mundo deles, ouvi-los e observá-los é bom demais!
Fiquei na Escola de 13 de novembro até 27 de fevereiro. Aulas mesmo só até metade de dezembro. Pouco tempo sim, mas o suficiente para eu me dar conta do mundo louco, louco mesmo, que é a escola. Há algum tempo se fala em interdisciplinaridade, temas transversais, integração das matérias, mas acredito que estes processos ainda não se concretizam na maioria das escolas públicas do Estado. Infelizmente, o currículo por disciplinas ainda domina. E os professores também não estão preparados e dispostos a realizarem projetos que integrem sua área com a de seus colegas.
A avaliação continua sendo por nota, focada em resultados, provas, trabalhos, desempenho. A avaliação que considera o processo de aprendizado do aluno ainda não é praticada. E é difícil de exercê-la. Creio que a avaliação ainda é um dos principais problemas, uma zona de conflito permanente, e uma das maiores polêmicas quando se trata de ensino. Muitas escolas não estão dispostas a discutir métodos diferenciados de avaliação. Muitos professores querem continuar com seus métodos arcaicos, massivos, mais fáceis de concluir e resolver, como as provas. Algumas escolas só mudam as formas de avaliação quando pressionadas pelas instâncias superiores, que é o que tem ocorrido agora.
Uma das "novidades" dos currículos agora são as tais áreas de conhecimento. A avaliação dos alunos está sendo feita de acordo com estas áreas. Não tenho muita certeza, mas acho que são 4: Linguagens, Ciências da Natureza, Matemática e Artes. O aluno só repetiria o ano se reprovasse em mais de duas áreas.
Uma das novas orientações da Secretaria de Educação é a realização dos tais seminários integrados na escolas. Não entendi bem, mas seriam atividades interdisciplinares, com integração entre os conteúdos
Em fevereiro eu fui num Encontro (FOTO) de "formação" da 8ª Coordenadoria Regional de Educação. Alguns pontos levantados foram interessantes, mas pouco se aproveitou o momento em que todos os novos professores estavam reunidos, para discutir coisas realmente relevantes. Não ficou nada clara pra mim a proposta pedagógica do governo do Estado.
Observei a quantidade de professores jovens que estão assumindo. Espero que eles levem novas ideias, propostas e metodologias às escolas. Encontrarão resistência, sim, mas isso faz parte e não impede que estes professores mexam um pouco com a estrutura estanque e quadrada de muitas escolas.
Enfim que esta experiência docente, mesmo que rápida, foi importante pra eu conhecer um pouco mais do mundo escolar, pra eu entender da estrutura pública de educação.
Foi uma experiência meio angustiante, mas também agradável e divertida!
Com esta licenciatura, pude me inscrever no concurso do Magistério em 2012. Sem pensar muito, sem muita vontade de ter uma carreira como professora do Estado, sem estudar, fui fazer a prova e acabei sendo chamada em novembro para assumir o cargo. A única experiência docente em escola que eu tinha tido foi no estágio curricular das Letras em que dei aulas de português para uma turma de ensino médio e inglês para uma 8ª série. E foi em dupla.
O Pilar é uma escola bem legal! |
Enfim, totalmente perdida, no meio do mês de novembro, final do ano letivo, assumi uma turma do terceiro ano, para lecionar português (tranquilo) e SEIS turmas de primeiro ano para lecionar literatura na Escola Coronel Pilar (FOTO), em Santa Maria. Aí foi punk!. Mal me apresentaram a escola. Não me explicaram a política pedagógica. Muita simpatia mas orientação zero. As turmas de literatura ficaram quase 3 meses sem aula da disciplina e estavam há 2 ou 3 semanas tendo aula com uma professora que, como uma das atividades principais, passou o filme "Tudo sobre minha mãe" para eles. Pois é! O quadro não era nada animador. Eu teria somente um mês de aula e uma avaliação trimestral pra fazer.
O que se pode fazer em uma hora/aula por semana de literatura? quase nada...Os alunos não quiseram fazer nada relacionado com o filme. Relataram que não gostaram, não entenderam... Bom, eu não os culpo porque se fosse eu não teria passado este tipo de filme pra eles, apesar da achar excelente esse longa do Almodóvar.
não é lá o melhor filme pra passar pra adolescentes... |
Imaginem cada turma com vinte e poucos alunos de 14 a 16 anos enfiados numa sala de aula quente em pleno novembro e dezembro! Fim dos tempos!!!!
Fiz uma breve consulta pra saber o que eles estava lendo. Pouca coisa de bom saiu. A maioria respondeu que não gostava de ler, o que já era uma resposta esperada. Eles adoram dizer coisas que odeiam.
Dar outra leituras? que jeito, não tinha tempo pra isso. Além do mais, no início do ano, eles já haviam recebido a tarefa de ler um livro. E foi um sufoco, pelos relatos que deram. Então trabalhei um pouco com figuras de linguagem, dando continuidade ao que a professora anterior estava abordando e fiz eles escreverem uma narrativa de tema livre. Foi interessante ler os textos. Alguns horríveis, outros meia boca, outros excelentes. O imaginário deles é muito engraçado e com frequência reflete o imaginário senso comum. Li muitos textos sobre histórias de amor, relacionamentos juvenis, encontros e desencontros dos pares românticos, amor pra vida toda, amores impossíveis, a morte. Notei também muita coisa da vida deles naqueles textos, histórias sobre ir a escola, sobre amizades e familiares. Poucos se aventuraram no sobrenatural, no absurdo, na invenção de situações inusitadas.
Tentava pensar sobre o que é o espaço de uma sala de aula. É um mundo complexo de diversidades, de individualidades, intenções e corpos muito diferentes, tudo isso junto num mesmo espaço fechado, quadrado, sufocante! é maluquice!
Mas tive ótimos momentos com os alunos. Aliás, os momentos mais interessantes foram as conversas com eles, antes, durante e após a "aula". Entrar um pouquinho no mundo deles, ouvi-los e observá-los é bom demais!
adolescente reclama demais! |
A avaliação continua sendo por nota, focada em resultados, provas, trabalhos, desempenho. A avaliação que considera o processo de aprendizado do aluno ainda não é praticada. E é difícil de exercê-la. Creio que a avaliação ainda é um dos principais problemas, uma zona de conflito permanente, e uma das maiores polêmicas quando se trata de ensino. Muitas escolas não estão dispostas a discutir métodos diferenciados de avaliação. Muitos professores querem continuar com seus métodos arcaicos, massivos, mais fáceis de concluir e resolver, como as provas. Algumas escolas só mudam as formas de avaliação quando pressionadas pelas instâncias superiores, que é o que tem ocorrido agora.
Uma das "novidades" dos currículos agora são as tais áreas de conhecimento. A avaliação dos alunos está sendo feita de acordo com estas áreas. Não tenho muita certeza, mas acho que são 4: Linguagens, Ciências da Natureza, Matemática e Artes. O aluno só repetiria o ano se reprovasse em mais de duas áreas.
Uma das novas orientações da Secretaria de Educação é a realização dos tais seminários integrados na escolas. Não entendi bem, mas seriam atividades interdisciplinares, com integração entre os conteúdos
Em fevereiro eu fui num Encontro (FOTO) de "formação" da 8ª Coordenadoria Regional de Educação. Alguns pontos levantados foram interessantes, mas pouco se aproveitou o momento em que todos os novos professores estavam reunidos, para discutir coisas realmente relevantes. Não ficou nada clara pra mim a proposta pedagógica do governo do Estado.
Encontro de 'formação' da 8ª CRE: muito papo e pouco clareza na proposta de educação |
Observei a quantidade de professores jovens que estão assumindo. Espero que eles levem novas ideias, propostas e metodologias às escolas. Encontrarão resistência, sim, mas isso faz parte e não impede que estes professores mexam um pouco com a estrutura estanque e quadrada de muitas escolas.
Enfim que esta experiência docente, mesmo que rápida, foi importante pra eu conhecer um pouco mais do mundo escolar, pra eu entender da estrutura pública de educação.
Foi uma experiência meio angustiante, mas também agradável e divertida!