terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vai uma versão aí?

Coisa que me deixa de mau humor é escutar versão tosca de músicas bacanas. Odeio!
Tem versão tupiniquim que realmente não funciona.
Ontem eu estava circulando num shopping da cidade e tive a infelicidade de ouvir a Ana Carolina cantando, em português, a linda "The Blower's Daughter", do Damien Rice. Pelo Amor de Deus! "Eu não sei parar de te olhar, não vou parar de te olhar..." não soa bonito como na música original. Não adianta forçar.
Achei bem ruim, principalmente o refrão.  E a frase inicial da música "So it is" virou "é isso aí".."É isso aí, mano véio". Aff!  Estou implicando com a Ana Carolina e, no caso, com o Seu Jorge, que a acompanha nessa superversão? Talvez sim.
"The Blower's Daughter" virou "É isso Aí". Coisa mais deselegante!




A música original é supermelosa, sim, mas acho bonita e cantada com muito mais sentimento. Intraduzível, na minha opinião:


Pior que a Zélia Duncan e a Simone também gravaram uma versão de "Blower's Daughter". Uhuuu!! O nome ficou "Então me diz.." e o refrão mudou para "Eu só sei olhar pra vc" e colocaram também um "Só sei pensar com vc" (WTF). Não gostei dessa versão também, especialmente o final, que ficou meio sertanejo.


E a chatíssima Cláudia Leite conseguiu estragar a música "Billionaire" do Travie MacCoy com participação do Bruno Mars.



Ai, Claudia, senta lá...e não sai nunca mais, POR FAVOR! Billionaire virou "Famosa". Na letra original, os cantores falam em ficar bilionário para dar entrevista a Oprah,a célebre entrevistadora da TV americana. Na versão da Cláudia Leite, a Oprah virou Jô Soares, haha. Só que a Claudinha querida misturou a música original, cantando algumas partes em português. Billionaire já tinha uma letra meio idiota, mas ficou mais idiota ainda na adaptação da Leite.

"Eu quero ser muito famosa
E usar apenas Louboutin
Ter no Twitter um milhão de fãs
Eu quero um carrão blindado
E você do lado
Quero selinho da Hebe Camargo"


Encontrei um post do blog Faixa Livre, que comenta sobre versões brasileiras de músicas internacionais.
Vou colar aqui uma parte da lista de versões que existe na postagem:


Rita Lee
Menino Bonito - Beautiful Boy (Beatles)
Minha Vida - In My Life (Beatles)
O Bode e a Cabra - I Wanna Hold Your Hands (Beatles)
Pra Você Eu Digo Sim - If I Fell (Beatles)
Tudo Por Amor - Can't Buy Me Love (Beatles)
Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar - Here, There and Everywhere (Beatles)

Não gosto.
Em "Aqui, Ali, Em Qualquer Lugar", tem uma hora que a Rita canta "I love you pra chuchu. Se vc não está perto eu fico jururu". ECA!! Tudo bem aportuguesar a letra, mas não precisa avacalhar tanto assim..
OK, "Minha Vida" até que ficou bonitinha.



Nenhum de Nós
Astronauta de Mármore - Starman (David Bowie)

Eita! Conheci primeiro a versão do Nenhum de Nós. Ela é mais chorosa, melancólica; ficou bonita a melodia. Mas Bowie é Bowie né. Simplesmente, bom demais!


Engenheiros do Hawaii
Era Um Garoto, Que Como Eu... - C’era Un Ragazzo Che Come Me... (Gianni Morandi)
Também conheci primeiro a versão gaúcha, mas a original é bacana.

O Rappa
Hey Joe - Hey Joe (Jimmy Hendrix)
Ahá. Gosto dessa versão brasileira do Rappa com o Marcelo D2.



Zé Ramalho
Bate Bate Bate Na Porta do Céu - Knocking On Heaven's Door (Bob Dylan)
Terrível. Sem mais comentários.

Titãs
Querem Meu Sangue - The Harder They Come (Jimmy Cliff)
Gente, eu nem sabia que essa música era do Jimmy Cliff. Não curti a versão roqueiro feliz dos Titãs. Prefiro então a gravada pelo Cidade Negra, que é bem mais bacana.

Ira!
Você Ainda Pode Sonhar - Lucy In The Sky With Diamonds (Beatles)
Nada a ver este refrão: "Você ainda pode sonhar" no lugar de "Lucy In The Sky With Diamonds".



Zezé Di Camargo e Luciano
Sufocado - Drowning (Backstreet Boys)
Eu te amo - And I love her (Beattles)
Gente! Pra quem gosta dos Beatles, dói demais ouvir "Eu te amo". Que pecado isso...




Kiko Zambianchi
Hey Jude - Hey Jude (Beatles)
Até que é bacana essa versão do Kiko. "Muita coisa vai fazer vc mudar, não tem mais razão de ser esta tristeza. Se alguém te faz sofrer, pra que lembrar, mais vale tentar viver de esperança, nanananananana..."

KLB
Um Anjo - Angels (Robin Williams)
obsessão - Obssession (Frankie J.)
Não Devo Mais Ficar - Have You Seen The Rain (Creedence)


Vergonha Alheia! Ignoraram completamente a letra e criaram uma versão romântica horrorosa.
"Comin' down on a sunny day"  virou "vou viver sem ninguém". :(

Gilberto Gil
Não Chores Mais - No Woman, No Cry (Bob Marley)
Ha, é bacana esta versão do Gil.

Latino
Festa no Apê - Dragostea Din Tei (O-Zone)
O que dizer...Funcionou até. Ficou mais famosa no Brasil que a versão original. Acho que muita gente nem sabe que o Latino inspirou-se livremente na música dos romenos da O-Zone, que é bem legal. Óbvio que a letra da original não fala nada de festa em apê ou coisa parecida.




Kelly Key
Barbie Girl - Barbie Girl (Aqua)
Indecisão - Sometimes (Britney Spears)
Essa música já é xaropinha. Não melhorou na voz da Kelly Key.



Bah! Já estava esquecendo de um clássico do mundo das versões. Eis, Love Bites, do Def Leppard.


Eis, a versão brasileira, Mordidas de Amor, de Yahoo.



Não condeno as releituras de músicas. As versões podem representar o quanto o músico admira ou se inspira em uma banda ao ponto de elaborar versões em português das canções. Parece ser o caso da Rita Lee cantando Beatles. Acho palha quando isso é feito pra alavancar a carreira, com fins somente comerciais ou mercadológicos, o típico "pegar carona" no sucesso de outras composições.

Vejam a francesa Vanessa Paradis, 15 aninhos, em 1988, cantando "Joe le taxi" com moletom rosa e grande.Comparem com a Angélica, dando pinta de super sensual em "Vou de táxi".




As versões assassinam as músicas originais? Em alguns casos, sim. É claro que uma música não deve ser encarada como produto cultural sagrado, intocável. Prova disso são os remix, mixagens, samplers e paródias. As músicas estão aí para serem ouvidas, tocadas, interpretadas, transformadas, enfim, apropriadas para os mais diversos fins. Os políticos se utilizam de canções bem conhecidas para fazerem seus jingles de campanha, por exemplo. E muitos funcionam bem na nova função.
O Guri de Uruguaiana se diverte colocando a letra de Canto Alegretense em tudo quando é hit internacional. E é engraçado!

Se a música é boa, por que não fazer uma versão em outra língua? Muitas pessoas acabam conhecendo somente a versão brasileira (como deve ter sido no caso da Angélica, por exemplo) e, a partir daí, encontram a original. E isso é bom. Talvez este acesso à canção original não ocorreria se não existisse a cópia, a releitura.

Mas que algumas versões machucam o ouvido, não há como negar...

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sob o céu de rock (gaúcho)

Tenho certa implicância com a expressão "rock gaúcho". Acho meio bairrista e procuro as razões para o termo ser tão difundido já que não costumamos ouvir falar em "rock paulista, "rock carioca", "rock mato-grossense", "rock paranaense". Enfim. Por que diabos gostamos tanto de encher a boca pra falar do nosso rock gaúcho? A mesma coisa acontece com o que chamam de "cinema gaúcho"; outra idiotice que fica para outro post.

Acho tão engraçado quando uma banda diz assim "tocamos rock gaúcho", com a intenção de propagandear seu trabalho. E isso é colocado pelos roqueiros como um diferencial: "a gente toca rock gaúcho". Uau! É pra achar super legal? O que isso exatamente quer dizer heim.

E não adianta, é uma expressão completamente entranhada e incorporada entre os músicos e também nos meios de comunicação. Existe o rock gaúcho e o rock nacional. Sacou? Essa separação vista com frequência por aí é que me deixa intrigada.






Vejamos o que diz a Wikipedia sobre o vocábulo:

Rock gaúcho é a denominação dada a música, geralmente rock produzido no Rio Grande do Sul. Apesar de não ser um estilo uniforme, muitas bandas, principalmente as que iniciaram essa cena musical, possuem características semelhantes, como a influência nítida do rock inglês e rockabilly, podendo aparecer juntamente com a música nativista na composição da melodia.




Hum. Rock produzido no RS, ok. Bandas que possuem características semelhantes. A questão da influência pode ser uma explicação convincente. Navegando pela rede, dá pra perceber que realmente está disseminada a expressão. Tem até um site rockgaucho.com.br com lista de bandas e notícias e um programa de TV na NET de Porto Alegre, chamado Rock Gaúcho na TV.

O jornalista Marcelo de Franceschi me passou um link com um post do Duda Calvin sobre o assunto. No post, Duda diz o seguinte: "não existe o rock gaúcho como estilo musical, existe rock feito por gaúchos, não falamos uma língua diferente, falamos o português; rock brasileiro, não é um ritmo diferente, uma vertente de rock, mas só o rock feito em Português. Rock Gaúcho nem isto é, pois não é um estilo diferente de rock, como o Punk Rock, como o Metal, como o New Wave, não, e muito menos uma língua diferente pra se tocar rock".

Olha o que o Frank Jorge, músico da Graforréia Xilarmônica, falou em entrevista a um site.

'Eu acho que tem uma questão histórica que é boa de apontar, mesmo que possa não ser a única resposta pra a expressão “rock gaúcho”: o lançamento, em 1985, do disco Rock Grande do Sul. Veio depois daquele boom nacional, com Blitz, Paralamas do Sucesso… Daí a [gravadora] RCA veio conferir o Festival de Rock do Unificado aqui em Porto Alegre, no Gigantinho. Eles viram que tinha uma cena e resolveram contratar as cinco bandas da coletânea – Replicantes, Engenheiros do Hawaii, TNT, De Falla e Garotos da Rua – e uma sexta, o Nenhum de Nós. Tudo bem, existia rock gaúcho antes, com Liverpool, Bixo da Seda, Almôndegas, Saracura… Como em qualquer lugar do mundo, sempre teve rock no Rio Grande do Sul, nos anos 60, 70… Mas acho que foi a partir dessa data, o ano de 1985, com o Rock Grande do Sul, que teve início essa expressão, rock gaúcho. Mas era um rock que não tinha uma cara só, eram bandas autorais, muito diferentes uma da outra."


O Frank faz um contexto histórico que esclarece um pouco o assunto. Mas como ele mesmo diz, as bandas eram diferentes uma da outra; não dá pra uniformizar e encaixar tudo num estilo "rock gaúcho". E depois ele ainda comenta sobre bandas que são do RS, mas que não carregam este rótulo, como a Superguidis e a Cachorro Grande.

Se a gente colocar "rock gaúcho" no Youtube, vai aparecer um documentário dividido em cinco vídeos sobre o  assunto. Não assisti a todos, mas me pareceu um material bem interessante para quem quiser aprofundar a discussão.

As bandas de rock gaúcho


E associamos o rock gaúcho ao que? A bandas como TNT, Cascavelletes, Rosa Tattooada, Garotos da Rua, Graforréia Xilarmônica, bandas que se inspiraram no rock do Mundo; eles não inventaram um novo rock.
Estas bandas obrigatoriamente devem estar no playlist dos músicos que tocam "rock gaúcho". É incrível. Não associamos o termo a outras bandas, mais novas, do cenário gaúcho. São estas, dos anos 80 e 90, quase todas da capital, que vêm  a nossa mente .



É claro que dá para ampliar o leque do rock gaúcho incluindo Nei Van Soria, Tequila Baby, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem, Acústicos e Valvulados, Bidê ou Balde etc.
Das antiguinhas, também tem a Taranatiriça (nome horrível né) cujo vocalista, Alemão Ronaldo, ainda agita por aí e não é necessário comentar. Ele também foi vocalista da Bandaliera (é campo minado, é campo minado!!).

Músicas que não poderiam faltar num Tributo ao rock gaúcho, na minha opinião.


Dos Cascavelettes eu citaria "Sob o céu de Blues", a  clássica das clássicas. "Dona da minha desgraça, a dança das minhas lágrimas". Acho bem melódica e poética. Tem ainda "Jessica Rose" e "Nega Bombom". Eu curto muito também Lobo da Estepe; Acho linda! Pena que é pouco tocada pelas bandas de rock gaúcho.
Linquei abaixo uma matéria do Jornal do Almoço, de 1990, com os Cascavelles, citados como autores de um rock safadinho, despudorado.




O Inferno vai ter que esperar (Rosa Tatooada). "Nem um tiro, nem uma gota de sangue. Sorriu e disse adeus". Adoro a dramaticidade dessa música, hahaha. É ultra romântica. Acho bem cinematográfica essa letra, mas não tem clipe oficial. Procurei e não encontrei na rede.
Abaixo, uma versão da canção pela banda santa-mariense BJACK, gravada em 2009, no Theatro Treze de Maio.


Jardim Inglês (Nei Van Sória)- Sigo sentado no jardim inglês. Fofa!
E não é que eu ia me esquecendo dos Garotos da Rua. Tem a ótima "Eu já sei" (é quando vc volta, pela mesma porta; já não sei como posso, fingir pra acreditar...), o hino do adolescente-revoltado "Tô de saco cheio" (lá em casa continuam os mesmos problemas...). Outro clássico é "Meu coração não suporta mais", dos Garotos da Rua. Adoro a voz do Bebeco Garcia.




Do TNT, Gata maluca -"Ô gata, procura outro homem, cara feia pra mim sempre foi fome".
"Ela era irmã do Dr Robert" - "Eu não me lembro do teu nome, eu não me lembro do teu fone, mas eu me lembro de ti". Tem também Ana Banana, bem conhecida. E esta aqui embaixo:



A última do meu playlist "rock gaúcho" é o hino, Amigo Punk, da Graforréia. Acho que dispensa comentários. A música mais pedida dos bares. Superpopular, porque é boa mesmo.

Eu gosto de todos estes clássicos. São músicas boas, sim. E produzidas por bandas do Rio Grande do Sul. Bandas de rock! Rock brasileiro! rsrs


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

O comercial machista da Hope

Não me considero uma feminista, mas não suporto machismo e repudio atitudes e pensamentos machistas. Sou meio sexista, sim. Às vezes eu separo o pensamento de homens e mulheres e busco explicações de algumas atitudes, relacionando-as ao sexo da pessoa. Eu gosto de acreditar que existem diferenças entre o cérebro de homens e mulheres e talvez isso seja bem sexista.

A campanha da Hope, estrelada por Gisele Bunchen nem tinha me chamado muito a atenção. Confesso que quando vi o comercial, reparei primeiro no corpão da Gisele e depois me atinei para o texto. Realmente a abordagem é meio machista, a propaganda é totalmente desnecessária, mas não sei se concordo com a ação de tirar do ar o comercial.




Depois de denúncias de telespectadores, a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) enviou ofício ao  Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) repudiando a campanha de lingerie da Hope, que enfatiza a sensualidade natural da mulher brasileira. Aliás, esta mulher brasileira da Hope é um público bem específico. Não é pra mim, por exemplo. Não tenho carro e nem marido pra estourar cartão de crédito. Muito menos tenho grana pra comprar lingerie da Hope. É um comercial pra dondoca rica, dona de casa, que dirige o carro do maridão e usa o cartão de crédito dele. Por favor!

Óbvio que isto é o de menos. Pra Hope, a mulher brasileira dirige mal, é consumista e se utiliza da sensualidade para dar más notícias. Engraçadinho né. Acho ridículo este estereótipo de mulher.

No blog, Escreva Lola Escreva, Lola escreveu um belo post sobre o assunto. "Sim, a campanha é discriminatória e presta um desserviço à mulher. Mas não concordo com o pedido de suspensão. A campanha da Hope é apenas uma num oceano de propagandas e programas machistas. O que é preciso é uma ampla campanha institucional contra o machismo",diz ela. Vale a pena acessar e ler todo o texto.

A Nathália Costa, da revista OViés, daqui de Santa Maria, também escreveu um texto. Entre outras questões, ela diz que a propaganda da Hope apenas reproduz um pensamento machista que está enraizado no País.

Por outro lado, Rodolfo Viana, do blog Papo de Homem, publicou um comentário afirmando que as feministas são umas chatas justamente por condenar campanhas como esta da Hope. Olha o que o Rodolfo fala da campanha:

"Se há algo que a campanha incita é: “Mulheres, façam os homens de babaca usando a sua feminilidade”. Um poder que, obviamente, só elas têm. Elas nos deixam de quatro num estalar de dedos. Elas conseguem nos fazer de bobos sem muitos esforços. Não é preciso lingerie – basta aquela vozinha meiga."


Hahaha. Tah né. Isso é realmente achar justificativas forçadas pra dizer que a campanha não tem nada de mais e que as feministas são chatas, lunáticas e paranóicas.

A Hope fez uma campanha idiota, nada criativa e apela para um estereótipo machista de mulher brasileira. Não representa, de forma alguma, a mulher brasileira ou a sua sensualidade. Ponto.