quarta-feira, 28 de julho de 2010

arcadismo

Eu sou filha de professores, irmã de uma professora de Biologia, e com uma experiência breve em escola quando fiz estágio curricular para o Curso de Letras. Portanto, sou uma pseudo-professora, digamos assim. E por isso tudo, me interesso por discussões que envolvam educação, comportamento e atitudes dos jovens. Um assunto que frequentemente é pauta dos meios de comunicação. Essa semana se falou no Twitter dos adolescentes que apareceram fazendo sexo e transmitindo tudo pela rede social. A prática é conhecida como Sexting. No Blog do Azenha, tem um texto da Conceição Oliveira sobre o assunto.

Mas, enfim, o que quero comentar é que hoje o comportamento de adolescentes é muito criticado. É raro ver avaliações mais problematizadoras e não apocalípticas sobre esses serezinhos chamados adolescentes. O programa de rádio Jogo de Cintura, da Antena 1, transmitido agora às 13h, falava hoje justamente sobre a vida "vazia" dos adolescentes. Para as convidadas, que não sei quem são, está tudo um caos: os adolescentes de hoje tem uma vida vazia, só lêem porcarias, só aprontam na Internet, andam com más companhias, e por isso é preciso estar "de olho" neles.
Não peguei o programa desde o início, mas deu tempo de ouvir umas bobagens e generalizações como a de que atualmente os adolescentes só escolhem a profissão por dinheiro, que não há mais "contestação" da nova geração, que antes, na época da ditatura, havia um motivo para contestação dos jovens, e que, agora, os adolescentes sao conformados por vontade própria. Quanta besteira!!!! Na opinião delas, tudo que os jovens fazem hoje é desprovido de sentido.
O pior foi ouvir de uma convidada que ela ficou surpresa um dia de ver uma menina que foi escolher um livro, mas rejeitou todos os clássicos (como se todos os clássicos fossem bons). Como bom exemplo, citou um menino que recitou poemas de Gonçalves Dias na escola. Ha, sim, o mundo não está perdido, pois existem alunos que recitam Gonçalves Dias.

Gonçalves Dias. Pelo amor de Deus!!!!!! Existe coisa pior hoje que ouvir "minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá". Argh! Porque Canção do Exílio é o único poema maldito do Gonçalves Dias que a gente lê no colégio. !! Sinceramente! O aluno tem que saber que existiu esse poeta, esse poema e deu. Passa rápido essa página do livro.
Eu acho normal que os adolescentes não leiam clássicos da literatura. Há coisas chatíssimas entre os clássicos. Chega de ler Marília de Dirceu, poemas de Castro Alves, Iracema...Argh! Esses são românticos e tal e tal são arcádicos! Hã?

Com tanta produção literária interessante hoje, tanta comunicação, tanta coisa com mais sentido...
Não dá mais pra aplicar hoje os padrões culturais antigos. Deixa as criaturinhas lerem Crepúsculo, Harry Potter etc. A juventude não está se emburrecendo. Os tempos mudaram. Não tem nada de anormal ver vídeos legais no youtube, seriados, interagir nas redes sociais e conversar no MSN.

Eu não aguento essa gente que defende hora cívica na escola, disciplina, vigilância, palestra motivacional para os alunos em abertura de ano letivo e poemas do Gonçalves Dias!


4 comentários:

  1. se o passado fosse melhor, não haveria o futuro...

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  2. E o pior é que essa gente, metida a doutor e pós doutor, pensam a escola com a cabeça deles. Não dá mais, a juventude e as crianças são de outro tempo, com outra criação, outros recursos, outras interações. São o que Berardi chama de pós alfabéticos. Não são sem conteúdo não. É outro conteúdo, outro tipo de potência humana, não é pior e nem melhor, é diferente. E nesse diferente tem muita coisa boa.Não é de admirar que certas autoridades educacionais acham ótimo abrir mais escolas Tiradentes, dirigidas por brigadianos, com disciplinas rígida, ordem unida. Para essas cabeças, os adolescentes que não se submetem não tem nada na cabeça. Haja paciência! Nunca gostei dos clássicos, na sua maioria, com algumas exceções. Não vale a pena perder tempo. Eu, sou professora e não gosto e nem por isso me acho sem conteúdo.

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  3. Cara,eu dou risada, dou muita risada quando me deparo com esse tipo de coisa.A forma adulta de ser é tão patética, tão dotada de regras e silenciamento das emoções, que não há outra forma de ler estas críticas a não ser com riso (que é a maior forma de abertura ao mundo da gurizada com quem convivo). Tenho pouca experiência, mas o suficiente pra me dar conta que há muito, mas muito mais vida, criação, espontaneidade, fuga de regras e disciplinamento (que eu acho ótimo) do que a minha geração, que ajuda construir (se não piora) este discurso absurdo o qual ouço diariamente.

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  4. Senso comum desse pessoal que tu comentou é bucha. Abraço, Marcelo.

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