sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma novela policial

No fim, tudo vira uma novela. No caso Bruno, dá para identificar os componentes de uma típica novela policial, um livro da Agatha Cristie, um conto do Edgar Allan Poe. A arte imita a vida, ou a vida imita a arte...
O que tem no caso Bruno que dá para fazer uma correspondência com uma estrutura novelesca?

-Narradores: os jornalistas. Contam-nos todos os detalhes da história, fazendo o papel de narrador em terceira pessoa, procurando não se envolver emocionalmente na história, mas usando muitos adjetivos: um crime chocante e brutal, uma morte cruel, um assassino frio.

-Personagens - os criminosos, a vítima, os delegados, os advogados. Eliza (vítima), Bruno (mandante), Macarrão (comparsa), Neném (comparsa) e Bola (o executor, o malvado).
Caracterização dos personagens: Eliza é a ex-modelo, que também está sendo tachada de maria chuteira, oportunista e tal; tentava provar na Justiça que Bruno era pai de seu filho, já tinha registrado queixa por agressão. Bruno é o goleiro famoso que não soube o que fazer diante de uma situação que estava lhe incomodado e decretou: "resolvam o problema"; está sendo descrito pela polícia como frio, o que só foi reforçado depois da divulgação de um vídeo em que ele aparece na delegacia falando de preocupações com a carreira como "ficar fora da copa de 2014". Macarrão, Neném e o menor de idade, primo de Bruno, fizeram a logística, sequestrando Eliza, agredindo-a e levando-a para o destino final: a casa do Bola, o ex-policial, o mau, o Jason, o psicopata que estrangula Elisa, corta seus pedaços, dá para os cães e depois concreta o corpo. Um delegado showman, estrelão, e advogados falastrões completam o time de personagens. Familiares ainda não se manifestaram com clareza na trama. Ainda.

-trama - a moça que se envolve com um famoso casado, tem um filho, quer a paternidade. Um goleiro, ídolo da maior torcida do Brasil. Traição, brigas, agressões, sequestro. Uma criança. A moça desaparece. Um corpo não encontrado. Crime premeditado? É a derrocada de um herói que do ápice da carreira despenca para o fundo do poço. Um suspeito, por enquanto.

-capítulos- No G1 tem uma linha do tempo, com todos os capítulos da novela: queixa policial de Eliza, paternidade, último contato, denúncias de agressão, sítio vigiado, bebê com desconhecidos, guarda da criança, polícia tenta entrar no sítio, início das buscas pelo corpo, recompensa de 5 mil da família de Eliza para quem fornecer informações, depoimento do menor, pedido de prisão de Bruno e Macarrão.

E mais capítulos virão por aí...o roteiro é longo.
A vida e a personalidade de Eliza serão reviradas. Pai, mãe e amigos dela serão entrevistados pelo Fantástico. A ex-namorada, ex-amante, ex-modelo, ex-atriz pornô será desmoralizada e vitimizada: ao mesmo tempo. Psicólogos serão entrevistados para explicar por que um atleta rico e bem sucedido toma uma atitude como essa; os mesmos psicólogos vão aparecer falando sobre o trauma dessa criança. A esposa, Daiane, deverá ser entrevistada. Não me admira que apareçam mais ex-namoradas de Bruno falando do lado violento dele. Bruno vai chorar, vai dizer que não foi intenção dele; que ele não queria aquilo. Ai, ai..estou só esperando...

Lembram do caso Isabela Nardoni? Estamos diante de outro caso policial, chocante, que desafia a polícia a provar os autores do crime. Prato cheio para o jornalismo, que é quem está escrevendo a novela. E o público? Assiste de camarote à novela hiper-real, às reconstituições do crime. E quer detalhes sórdidos. E quer punição. E quer ver o agora anti-herói sofrer.

3 comentários:

  1. E aí, Silvana! Beleza? É, temos, enfim, uma nova novela no plim plim, a trama está no climax, descobriram quem matou Odete Roitman!
    Outra coisa, ontem, na reunião da revista o Viés, pensamos em te convidar para publicar um texto conosco. O que achas? Esperaremos resposta!
    Um abração!

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  2. Olá!Seria legal, sim. Ficaria honrada. Podemos conversar.

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  3. É o velho enigma: quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha? As pessoas querem a novela e por isso lhes entregam ou lhes entregam para que queiram? Se ninguém desse audiência a este tipo de coisa será que mudariam o foco do jornalismo? O jornalismo brasileiro há tempos parou com o que tinha de melhor, o jornalismo investigativo, pra se tornar um diário de fofocas. As pessoas não têm tempo e no tempo que têm estão preguiçosas, por isso precisam de matérias rápidas e empolgantes, manchetes que lhes façam ter a ilusão de que sabem o assunto sem precisar aprofundar-se. É por isso que as pessoas lêem uma frase e pensam que conhecem um autor, ouvem uma música e pensam que conhecem o artista. Querem ouvir uma manchete e achar que sabem do assunto. As pessoas têm opinião sobre tudo mas não conhecem nada.

    Clicks em matérias estúpidas criam obsessores:

    http://rudyrafael.wordpress.com/2010/04/08/clicks-em-materias-estupidas-criam-obsessores/


    Místicos ocos nas comoções sociais contra monstros:

    http://rudyrafael.wordpress.com/2010/07/13/misticos-ocos-nas-comocoes-sociais-contra-monstros/

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