terça-feira, 24 de agosto de 2010

Drogas. PF quer treinar professores...Mídia apóia

O assunto é...drogas. Elas estão na mídia. Nos jornais do grupo RBS, nas campanhas, nas reportagens e na novela também. Passione não foge do estereótipo e mostra a fissura exacerbada de um "drogado".
No geral, o discurso veiculado pela mídia sobre as drogas é o proibicionista, que prega que as drogas matam e devem ser banidas. E ponto final. Sem problematizações. Não se pensa muito.

Por isso, o curso de Psicologia da Ulbra resolveu pensar sobre o tema e promoveu o Seminário "As drogas na mídia". Como mediadora, participei da mesa-redonda que aconteceu no dia 18. " O encontro foi na quarta-feira passada e eu fui lá para mediar, hehe.
Para debater o assunto estavam a socióloga Flávia da Silva, a psicóloga e professora da UFSM, Adriane Roso, a vereadora Helen Cabral e o agente da Polícia Federal, Osmar de Moraes.

Foi interessante...deu pra ter uma ideia de como cada um encara esta questão.

A vereadora Helen falou bem até, mas tem aquele péssimo vício de políticos: fala demais e não é objetiva. Divaga muito e consome o tempo do debate circundando o assunto na tentativa de contextualizá-lo.

Osmar, que trabalha no grupo de prevenção da PF, enfatizou que a mídia deve mostrar os malefícios das drogas. "A mídia tem que dizer que o crack mata", afirmou. (Peraí! Ela já não faz isso o tempo todo?). Na opinião do agente, é urgente e necessário que a mídia publicize a composição química do crack. "Ninguém publica a fórmula do crack. É uma briga que eu tenho com veículos da mídia". Na opinião do agente, se as pessoas souberem todas as substâncias que o crack tem elas vão combater a droga com mais força. (será que vão mesmo?)

Para a professora e psicóloga Adriane Roso, a mídia divulga um único pensamento ou posicionamento sobre drogas. A mídia não dá voz a outro tipo de pensar. Ela lembrou que as drogas também produzem prazer e que isso pouco é discutido.

A Flávia falou da importância de problematizar a palavra "droga", aspecto que não é permitido no campo proibicionista que domina os discursos sobre o assunto. Também citou o uso irracional de medicamentos, a ritalina que dão para as crianças na escola e de como isso é permitido e difundido. E criticou o estigma de violência que costuma ser atribuída a usuários de drogas. Como combater algo que não é físico, palpável, que não tem vida. O que é combater as drogas?

Para o agente da PF, os assaltos e a violência em geral tem envolvimento de usuários de crack. Para ele, não existem políticas estatais de prevenção. Por isso, defendeu a presença da PF nas escolas para ela fazer o que os professores, na opinião dele, não sabem fazer: falar sobre drogas para as crianças: "Os professores não sabem distinguir loló de cola. Não sabem a composição química das drogas". Afirmou ainda que os professores precisam de treinamento sobre drogas. (assustador né, gente. Esta é a postura da PF hoje: estar dentro das escolas e treinar professores para falarem sobre drogas). E isso, com certeza, tem apoio da mídia.


Em relação a esta questão da educacão, do falar com as crianças, Adriane falou o seguinte: "Nós não podemos ensinar o amor; nós temos que ser o amor".

E eu não estou fazendo aqui apologia às drogas. Mas que é preciso pensar sobre o assunto, é preciso...

13 comentários:

  1. (continuando) “A Polícia” tem posições bem firmes (e até intolerantes) quando o assunto é criminalidade! Não pretendo criticar os policiais, porque a realidade deles não é das mais românticas... Agora, PF dentro das escolas, aí já acho demais! Creio que orientar os professores seja muito válido. Eu mesma tinha dificuldade até algum tempo atrás de diferenciar certas drogas. E, realmente, as pessoas que não lidam com o assunto e que não têm contato direto com os entorpecentes nem sempre conseguem diferenciá-los, não conhecem os “métodos” de uso, como lidar com alguém que seja dependente, enfim, informação nunca é demais... Só não acho que essa presença policial ostensiva seja saudável ou desejável no ambiente escolar... Parece uma coisa meio “Estado Policialesco”, até “ditatorial”, não? Sabe-se lá quais outras ingerências os agentes poderiam ter... Respeito a opinião e a intenção do policial, mas não concordo com essa proposta...

    Por fim, tenho a impressão de que falta realmente um tanto de informação. Cito um exemplo: ao contrário do que era no passado, os fumantes chegam a ser até discriminados nos dias de hoje (não pode fumar aqui, não pode fumar ali e muita gente tem verdadeira "ojeriza" a esses outros dependentes – não quero entrar na discussão, mas certos comportamentos são bem questionáveis, afinal, qualquer espécie de discriminação deve ser repudiada). No entanto, tenho a impressão de que com a difusão de informação acerca dos seus malefícios, as pessoas pensam duas vezes antes de pôr um cigarro na boca. Posso estar enganada, mas acho que a campanha “contra” tem lá seus méritos, embora não deva ser uma ação isolada.

    Em suma, eu não sou especialista no assunto e pode ser que muita gente ache que eu disse um tanto de bobagem. Mas, honestamente, até hoje não consegui ver ninguém me convencer de que a “solução” A (liberação total, p. ex.) ou B (repressão tolerância zero, p. ex.) seja a melhor. Até porque, via de regra, não se vê a apresentação de ideias que se mostrem minimamente eficientes para lidar com a questão (e, agora, nessa época de campanha, isso é muito nítido; a abordagem é muito superficial para um tema tão delicado). Aliás, talvez não fosse nem o caso de falar em “solução” propriamente (até porque não há consenso em torno da questão), mas em ações integradas de todos os setores da sociedade em torno de maior conscientização, orientação, debate, educação, acolhimento e discussão. Apenas tratar o assunto como "um mal" da sociedade, um tema “pernicioso”, “diabólico”, não vai trazer nada de bom (olha a carga de preconceito nisso). E nesse aspecto a iniciativa de promover esse evento que mediaste é bastante louvável!

    Bom, assunto ainda tem e muito... Parabéns por trazer o tema para discussão!

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  2. Silvana, eu não quero parecer rasa nos meus breves comentários... Mas, lá vai. Eu me sinto na obrigação de colaborar na discussão justamente por ter uma visão “privilegiada” do assunto no meu dia-a-dia...

    Concordo contigo quando dizes que a questão do uso/tráfico de drogas é pouco problematizada, mas tenho pelo menos uma opinião sobre o assunto - que pouco muda ao sabor dos mais variados argumentos: por mais que uma eventual liberação dos entorpecentes/psicotrópicos pudesse trazer benefícios em alguns aspectos, não me parece que essa seja a melhor via...

    Quais seriam os reais ganhos na liberação das drogas? Aumentar a arrecadação de impostos? (aliás, por vias indiretas, esse “comércio” já é tributado). Reduzir um pouco a venda ilícita (que deixaria de ser ilícita) e toda a criminalidade que a cerca? Talvez, mas o crime organizado se sustenta principalmente com a remessa de drogas para o exterior. O Brasil, por exemplo, é apenas um caminho, uma passagem, para a imensa quantidade de entorpecentes que sai daqui todos os dias (rumo a Europa, principalmente). Então, acredito eu, liberar no Brasil não resolveria o problema se os outros países continuassem proibindo, até porque o “mercado informal” é mais lucrativo...

    Por outro lado, quais os reflexos de um eventual aumento no consumo dessas substâncias em decorrência da descriminalização? Sinceramente, não vejo nenhuma vantagem em as pessoas poderem usar drogas livremente. Claro, óbvio, evidente que esse uso traz prazer (caso contrário, não seriam tão atraentes)... Causam prazer como a bebida, o cigarro (outras vertentes possíveis da dependência). Mas, não se pode esquecer que inúmeras dessas drogas atualmente proibidas têm ALTÍSSIMO poder viciante sobre quase qualquer pessoa (mais que álcool, cigarro...). E o que traz de bom para vida de um indivíduo ser viciado? Nada. Absolutamente nada. Eu conheço uma pessoa viciada em crack. Como deves saber, é degradante, deprimente, sofrido, horrível – para ela e para a família, amigos, colegas! (e não é muito diferente do que a novela mostra, não... já acompanho a situação dessa pessoa há alguns anos e realmente é um desperdício de vida! só não dou mais detalhes por razões óbvias...). Acho que ninguém gostaria de ver isso amplamente difundido na nossa sociedade. Se sendo uma conduta vedada, já há tantos dependentes, que impactos a liberação poderia causar? Eu tenho um grande receio quanto a isso...

    Aliás, já li alguma coisa sobre o fracasso da liberação das drogas na Holanda... Não sei se procede, mas isso já foi até mencionado em sala de aula, por um professor que atua na área criminal, quando eu fazia faculdade... Eu deveria buscar mais informações sobre o assunto e por isso não vou tomá-lo como um argumento.

    Achei bem interessante o fato de alguém ter mencionado as “drogas lícitas”. É impressionante a quantidade de pessoas que assumem, sem qualquer pudor, que lançam mão de um “remedinho” para ficarem mais felizes, para dormirem melhor, porque estão “tristes”... etc., etc., etc. (Ninguém quer sofrer, né?) Obviamente que não falo de quem efetivamente tem uma doença que precisa ser tratada. Elas existem, são uma realidade, não podemos negligenciá-las... Mas, a banalização do uso de medicamentos (inclusive por alguns médicos) me parece uma questão bem preocupante e bem pouco discutida! Deve ser, mesmo, reflexo de alguma disfunção social dos “tempos modernos”. Tanto essa questão é preocupante que praticamente todos os dias são presas pessoas aqui na fronteira importando grande quantidade de medicamentos (de procedência questionável e até falsificados; com nítido intuito de posterior revenda)... Estão incluídas aí as drogas para emagrecer (e o culto à beleza a qualquer custo daria outro comentário), para impotência sexual, para provocar aborto, para reumatismo, etc., etc., etc... O problema não é a importação ilícita dessas coisas em si! Mas a disseminação dessas drogas na sociedade. Bem lembrada essa questão!

    (comentário em prestações porque teu blog não aceitou tudo que eu tinha pra dizer! hahahahaha...)

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  3. Ih, que burra! Inverti tudo a postagem... O primeiro é o segundo trecho e o segundo é o primeiro trecho.

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  4. Perguntas de um leigo no assunto sobre o consumo social de drogas e suas repercussões???
    1º- O uso de drogas é causa ou consequência de violência humana??
    2º Se o consumo de drogas não gerasse violência estaríamos nós a discutir tal assunto ou seria somente só mais uma pauta de discussões sobre saúde coletiva??
    3º O debate se faz porque o consumo crescente de crack aumenta os indíces de violência ou lesa o patrimônio individual??
    4º Porque não existe campanhas "Maconha nem Pensar" ou "Cocaína nem Pensar"???
    5º E por fim aqueles cigarros mentolados pretinhos (Godan), não sei se é assim que se escreve, tem maconha ou não tem na sua composição????

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  5. Escreve alguma coisa aí Sil. A Letícia dissertou aí e nem um aiaiai tu responde!!!!!!!

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  6. Eu também sou leiga, cabeção!! A Letícia escreveu tanta coisa que eu ainda tô ruminando tudo. Não sei responder tuas perguntas. Vamos ver...
    1- O uso de drogas tem várias motivações, acredito. Os psicólogos dizem que o cara que procura drogas faz isso pq não encontra acolhimento nas relações sociais. Também dizem que a agressividade ou violência é anterior ao uso. óbvio que a droga pode potencializar a agressividade, mas ela é anterior ao uso.
    2 e 3- Para os números da Polícia, o uso de drogas aumenta a violência. Só que várias coisas geram violência né. Álcool, inclusive. Sim, parece que os pequenos assaltos a pessoas ou estabelecimentos aumentaram por causa do consumo. Mas o que isso representa nos números totais de ocorrências violentas? Nem a polícia sabe dizer. Associar uso de drogas à violência é um dos principais argumetnos para a proibição delas.
    4- Seria rículo ter Maconha nem pensar pq é muito difícil alguém se viciar em maconha, mas claro que isso não é consenso entre os especialistas. O crack é feito da pasta base da cocaína. Algumas pessos dizem que a proibição da cocaína fez surgir o crack que é mais barato e não precisa de refinamento como a coca. Sei lá tb...Outra coisa:há pesquisas que apontam a maconha como tratamento para viciados em crack. Mas é óbvio que isso é completamente rechaçado pela sociedade
    5- Até onde seio Godan não tem maconha, mas é tão fedorento quanto a Marihuana.
    A dissertação da Letícia, vou responder depois ou deixo para os leitores.

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  7. E acabo de ler no Diário uma notícia: o Gerente da RBS Santa Maria fez uma palestra sobre drogas numa escola em Dilermando.
    Nada contra o empresário, mas são essas pessoas que estão falando sobre drogas para crianças...

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  8. Sil... As perguntas não eram pra ti responder... Era pra fomentar o debate ou pra alguém mais preparada e capacitada do que tu responder minhas perguntas.
    Foste muito simplicista nas respostas e logo logo vou responder porque.

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  9. ok. E eu respondi pra fomentar o debate tb. Sim, fui simplista em responder tuas perguntas superinteligentes (pq não tem "maconha nem pensar").

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  10. Treinar professores...hã. Vão treinar professores a aprenderem a sorrir, a tocar,a minimamente respeitar os alunos (já que não conseguem amá-los), pra depois, quem sabe, poderem "ensinar" alguma coisa. Eu mereço...

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  11. Depois de 35 anos de magistério, já vi tanta coisa, tanta gente querendo nos ensinar, tanto nos substimarem, que já me sinto esgotada, cansada. Por isso nem vou considerar sobre o assunto. Afinal, todo mundo sabe mais do que nós professores. Haja paciência!!! Se começo a falar, minha dissertação vai ser maior do que a da Letícia, que parece andou estudando o assunto, que bom!

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  12. Todas as sociedades humans, e todos n´´os precisamos de alucinógenos, para divagas, imaginar, enlouquecer um pouco, faz parte do shumanos este componente para sonabular. muito mais numa sociedade como a nossa cheia de pressoes compromissos horários rígidos, pautados sempre de fora e pouco por nóssos desejos Este caos das drogas é fruto do caos do modo de vida da sociedade moderna.Se não rformulamos nossos paradigmas, nos drogaremos todos.E um dos equivocos é o proibicionismo e a criminalização que criaam estes aparatos de repressão e de contravenção que matam mais do que o próprio consumo...

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  13. Pedro, eu tb sou leiga, mas a minha realidade (o trabalho, o lugar onde moro, as pessoas com quem convivo) é um laboratório intenso! Eu não saberia responder de maneira minimamente satisfatória às tuas perguntas, mas as achei bem pertinentes. Ainda vou pensar mais sobre teus questionamentos... Creio que pra maioria deles a gente possa pensar em perquirir as mais variadas áreas do conhecimento humano (filosofia, psicologia, antropologia, sociologia, medicina - psiquiatria, química, ciência política, etc.) - sobre as quais não sou apta a "dissertar" - e mesmo assim talvez não achemos respostas satisfatórias!
    Os professores, acima (Alice e Anônima), estão certíssimos em defender veementemente a o seu ofício contra esse tipo de coisa! Sou filha de professores e sei que há muitas interferências indesejadas no essencial trabalho de vocês. Talvez não tenha ficado claro nos meus comentários anteriores, mas sou contra a ideia desse pretenso intervencionismo policial nas escolas!
    Tio, concordo no ponto "modo caótico de vida atual"! Deveria ser uma preocupação de todos essa vida louca e cheia de afazeres e de exigências questionáveis! Mas, com todo respeito à tua sabedoria, não acho que sejam necessários esses alucinógenos “externos” (especialmente esses mais potentes) pra que divaguemos, pensemos, imaginemos! Há tantas maneiras de se atingir esse estágio sonambular... O nosso organismo é capaz de secretar substâncias que produzem efeitos similares (sem que precisemos ficar excessivamente fora de nós mesmos e suscetíveis a cometer erros graves) – corrijam-me se eu estiver errada! Aliás, olhar pra dentro de si próprio, meditando, por exemplo, é uma experiência e tanto! Curtir a natureza, o ar puro, uma cultura diferente, a inocência de um animal, de uma criança! Ler, escrever. São todas formas de se refletir, de se viajar... Acho que talvez tenhamos perdido a capacidade de nos inebriarmos com o que é mais simples, com o que nos é dado pela própria natureza que nos cerca!
    De todo modo, como já disse antes, não sou partidária dessa ideia de liberação. Pelo menos até o momento não vi nenhum argumento que tenha me convencido. Os aparatos de repressão são vários e muitos são totalmente questionáveis - isso sim deveria ser repensado porque os nossos métodos de conter certas instabilidades na vida comum estão falidos (algumas instituições já não se prestam mais aos seus fins)! Mas, não acho que seja defensável a idéia de não repudiarmos tudo aquilo que possivelmente gere desrespeito pela integridade da vida, da saúde, da liberdade do próximo! Fosse o caso de aceitarmos livremente o uso de drogas, poderíamos pensar em estender essa idéia pra muitas outras vedações! Por perda de sentido em face da quebra de paradigma, poderíamos então cogitar de uma descriminalização das mais variadas outras condutas hoje repelidas pela sociedade (discriminação, preconceito, racismo, homicídio, lesão, censura, autoritarismo, abuso de poder, lesão ao patrimônio público, etc.)? As ideias começam “pequenas”, mas podem se agigantar e as conseqüências podem não ser as melhores. É minha opinião.

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