quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sob o céu de rock (gaúcho)

Tenho certa implicância com a expressão "rock gaúcho". Acho meio bairrista e procuro as razões para o termo ser tão difundido já que não costumamos ouvir falar em "rock paulista, "rock carioca", "rock mato-grossense", "rock paranaense". Enfim. Por que diabos gostamos tanto de encher a boca pra falar do nosso rock gaúcho? A mesma coisa acontece com o que chamam de "cinema gaúcho"; outra idiotice que fica para outro post.

Acho tão engraçado quando uma banda diz assim "tocamos rock gaúcho", com a intenção de propagandear seu trabalho. E isso é colocado pelos roqueiros como um diferencial: "a gente toca rock gaúcho". Uau! É pra achar super legal? O que isso exatamente quer dizer heim.

E não adianta, é uma expressão completamente entranhada e incorporada entre os músicos e também nos meios de comunicação. Existe o rock gaúcho e o rock nacional. Sacou? Essa separação vista com frequência por aí é que me deixa intrigada.






Vejamos o que diz a Wikipedia sobre o vocábulo:

Rock gaúcho é a denominação dada a música, geralmente rock produzido no Rio Grande do Sul. Apesar de não ser um estilo uniforme, muitas bandas, principalmente as que iniciaram essa cena musical, possuem características semelhantes, como a influência nítida do rock inglês e rockabilly, podendo aparecer juntamente com a música nativista na composição da melodia.




Hum. Rock produzido no RS, ok. Bandas que possuem características semelhantes. A questão da influência pode ser uma explicação convincente. Navegando pela rede, dá pra perceber que realmente está disseminada a expressão. Tem até um site rockgaucho.com.br com lista de bandas e notícias e um programa de TV na NET de Porto Alegre, chamado Rock Gaúcho na TV.

O jornalista Marcelo de Franceschi me passou um link com um post do Duda Calvin sobre o assunto. No post, Duda diz o seguinte: "não existe o rock gaúcho como estilo musical, existe rock feito por gaúchos, não falamos uma língua diferente, falamos o português; rock brasileiro, não é um ritmo diferente, uma vertente de rock, mas só o rock feito em Português. Rock Gaúcho nem isto é, pois não é um estilo diferente de rock, como o Punk Rock, como o Metal, como o New Wave, não, e muito menos uma língua diferente pra se tocar rock".

Olha o que o Frank Jorge, músico da Graforréia Xilarmônica, falou em entrevista a um site.

'Eu acho que tem uma questão histórica que é boa de apontar, mesmo que possa não ser a única resposta pra a expressão “rock gaúcho”: o lançamento, em 1985, do disco Rock Grande do Sul. Veio depois daquele boom nacional, com Blitz, Paralamas do Sucesso… Daí a [gravadora] RCA veio conferir o Festival de Rock do Unificado aqui em Porto Alegre, no Gigantinho. Eles viram que tinha uma cena e resolveram contratar as cinco bandas da coletânea – Replicantes, Engenheiros do Hawaii, TNT, De Falla e Garotos da Rua – e uma sexta, o Nenhum de Nós. Tudo bem, existia rock gaúcho antes, com Liverpool, Bixo da Seda, Almôndegas, Saracura… Como em qualquer lugar do mundo, sempre teve rock no Rio Grande do Sul, nos anos 60, 70… Mas acho que foi a partir dessa data, o ano de 1985, com o Rock Grande do Sul, que teve início essa expressão, rock gaúcho. Mas era um rock que não tinha uma cara só, eram bandas autorais, muito diferentes uma da outra."


O Frank faz um contexto histórico que esclarece um pouco o assunto. Mas como ele mesmo diz, as bandas eram diferentes uma da outra; não dá pra uniformizar e encaixar tudo num estilo "rock gaúcho". E depois ele ainda comenta sobre bandas que são do RS, mas que não carregam este rótulo, como a Superguidis e a Cachorro Grande.

Se a gente colocar "rock gaúcho" no Youtube, vai aparecer um documentário dividido em cinco vídeos sobre o  assunto. Não assisti a todos, mas me pareceu um material bem interessante para quem quiser aprofundar a discussão.

As bandas de rock gaúcho


E associamos o rock gaúcho ao que? A bandas como TNT, Cascavelletes, Rosa Tattooada, Garotos da Rua, Graforréia Xilarmônica, bandas que se inspiraram no rock do Mundo; eles não inventaram um novo rock.
Estas bandas obrigatoriamente devem estar no playlist dos músicos que tocam "rock gaúcho". É incrível. Não associamos o termo a outras bandas, mais novas, do cenário gaúcho. São estas, dos anos 80 e 90, quase todas da capital, que vêm  a nossa mente .



É claro que dá para ampliar o leque do rock gaúcho incluindo Nei Van Soria, Tequila Baby, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, Cidadão Quem, Acústicos e Valvulados, Bidê ou Balde etc.
Das antiguinhas, também tem a Taranatiriça (nome horrível né) cujo vocalista, Alemão Ronaldo, ainda agita por aí e não é necessário comentar. Ele também foi vocalista da Bandaliera (é campo minado, é campo minado!!).

Músicas que não poderiam faltar num Tributo ao rock gaúcho, na minha opinião.


Dos Cascavelettes eu citaria "Sob o céu de Blues", a  clássica das clássicas. "Dona da minha desgraça, a dança das minhas lágrimas". Acho bem melódica e poética. Tem ainda "Jessica Rose" e "Nega Bombom". Eu curto muito também Lobo da Estepe; Acho linda! Pena que é pouco tocada pelas bandas de rock gaúcho.
Linquei abaixo uma matéria do Jornal do Almoço, de 1990, com os Cascavelles, citados como autores de um rock safadinho, despudorado.




O Inferno vai ter que esperar (Rosa Tatooada). "Nem um tiro, nem uma gota de sangue. Sorriu e disse adeus". Adoro a dramaticidade dessa música, hahaha. É ultra romântica. Acho bem cinematográfica essa letra, mas não tem clipe oficial. Procurei e não encontrei na rede.
Abaixo, uma versão da canção pela banda santa-mariense BJACK, gravada em 2009, no Theatro Treze de Maio.


Jardim Inglês (Nei Van Sória)- Sigo sentado no jardim inglês. Fofa!
E não é que eu ia me esquecendo dos Garotos da Rua. Tem a ótima "Eu já sei" (é quando vc volta, pela mesma porta; já não sei como posso, fingir pra acreditar...), o hino do adolescente-revoltado "Tô de saco cheio" (lá em casa continuam os mesmos problemas...). Outro clássico é "Meu coração não suporta mais", dos Garotos da Rua. Adoro a voz do Bebeco Garcia.




Do TNT, Gata maluca -"Ô gata, procura outro homem, cara feia pra mim sempre foi fome".
"Ela era irmã do Dr Robert" - "Eu não me lembro do teu nome, eu não me lembro do teu fone, mas eu me lembro de ti". Tem também Ana Banana, bem conhecida. E esta aqui embaixo:



A última do meu playlist "rock gaúcho" é o hino, Amigo Punk, da Graforréia. Acho que dispensa comentários. A música mais pedida dos bares. Superpopular, porque é boa mesmo.

Eu gosto de todos estes clássicos. São músicas boas, sim. E produzidas por bandas do Rio Grande do Sul. Bandas de rock! Rock brasileiro! rsrs


6 comentários:

  1. Silvana, ótimas colocações sobre o rock gaúcho. Legal relembrar um pouco disso tudo. Para começar, 'rock gaúcho' é uma expressão dos anos 1980, como você citou, e que, a meu ver, denotava um cenário musical regional. São bandas que surgiram na mesma época e que queriam fazer rock n' roll sem sotaque gringo e com uma energia adolescente. Muitas das músicas falam sobre diversão, garotas e temas mais leves. E isso acabou caracterizou o que é o rock gaúcho. Exemplos não faltam, como TNT, Cascavelettes, Garotos de Rua e Rosa Tattooada - o post está muito rico e traz tudo isso e mais. Era um movimento bem diferente, por exemplo, do que acontecia em Brasília, com o Aborto Elétrico e, mais tarde, com Legião Urbana e Capital Inicial, que buscavam entre os temas a política e refletiam aquele momento da Abertura.
    Agora, dizer até hoje que 'rock gaúcho' é diferente do resto do país e que tem identidade exclusiva soa estranho. Não acredito que exista essa unidade. Na década de 1990, já tínhamos uma diversidade de bandas e que seguiam a movimentos distintos, inclusive aqui em Santa Maria.
    Na minha opinião, rock gaúcho lembra ainda esse movimento oitentista. No entanto, as bandas e a mídia classificam tudo o que veio depois e que direta ou indiretamente tem relação com esse cenário e com esses elementos.

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  2. ótimo comentário, Maurício. Eu tb identifico o rock gaúcho com esta época que tu citas. Lembraste muito bem dessa pegada divertida, descompromissada e mesmo "safadinha" das músicas dessas bandas; uma coisa mais leve mesmo. O que realmente me desagrada é o tom bairrista que vem junto com o "rock gaúcho", esse tom de "coisa nossa" pra dizer até mesmo que é melhor que os outros. ótimas bandas surgiram aqui nessa época e é isso que importa.

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  3. É tri, muito tri. O Rock Gaúcho, o nosso estilo de tocar rock, não há diferença alguma com o estilo dos outros, mas foda-se, é rock gaúcho e pronto, é tri, é foda, temos que valorizar mais o que é nosso gurizada... Principalmente agora que o Rock gaúcho vai decolar. Sim o nosso Rock, o gaúcho, será conhecido intercontinentalmente. Viva o Rio grande Che!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ah, e não usais o pronome Você, brasileiro fala você, gaúcho fala tu. Hahahah caraca, eu sou muito bairrista. Afinal, por que eu estou digitando isso? Ah foda-se, RIO GRANDE, RIO GRANDE EU TE AMO!!!!!!!!!! Daria minha vida por ti meu amor!!!!! Oh my gosh! <<<<< coisa de gringo, SOMOS GAÚCHOS! Grande coisa. Grande coisa sim! Somos fodas, não somos melhores que ninguém. Eu sei. Mas temos que pelo menos tentar. Não por orgulho. Mas por amor ao nosso Rio Grande. Nosso país? Brasil? Não sei, não sou brasileiro, SOU GAÚCHO. Separatista? Claro que não. Apenas gaúcho. ROCK GAÚCHO! EXCELENTE TERMO! UAUAUAUAUAUAUAUAU I'M FUCK! Ops, esqueci, não devemos escrever em inglês, isso é vergonhoso porque falamos o português e temos que honrá-lo, ou será que falamos o gaúchês? Gaúchês? Não seria gauchês? Sei lá! Somos gaúchos! Não falamos você! E temos que honrar o nosso estado/nação/país/pago/região/querência. RIO GRANDE EU TE AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

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  4. A questão é que já nascemos com o espirito separatista devido a anos de discriminação do resto do país principalmente o eixo rio-são paulo e isso não é de agora e sim desde a revolução farroupilha, sempre fomos considerados colonos e inferiores diante do resto do país. A verdade é que nós do rio grande do sul sempre nos consideramos "GAÚCHOS" depois "brasileiros" ao contrário do resto dos estados. Nós GAÚCHOS estamos cansados de levar o resto do BRASIL nas costas e não receber o reconhecimento cultural,financeiro,aplicativo e investidor por parte da UNIÃO devido ao RIO GRANDE DO SUL. Se isso mudar algum dia talves deixemos de ser chamados de "BAIRRISTAS"!

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  5. Não concordo que levamos o Brasil nas costas. Isso é bobagem! Pretensão idiota dos gaúchos de achar que trabalham mais que os outros. Que reconhecimento tu tá falando? Não tem porque o RS ser privilegiado pela União porque no passado sofreu. Ha, me poupe!

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  6. Guria! rsrsrs... Tema interessante :) Talvez seja pelo evento que promoveu sim. Ai houve o boom de qualidade do rock no Rio Grande e isso fez sentido a nossa cultura separatista. Interessante o tema e tens bons argumentos, mas como escreveu o "Maurício Dias" por aqui teve perspectivas diferentes e este componente e talvez outros mereçam reconhecimento. Tem o bairrismo sim, mas se prestares atenção e pesquisar vais encontrar algo para esta combinação de bandas e belas músicas que foi ímpar e não apenas em função do evento que as reuniu. Independente do termo que o designou, surgiu isso em outro estado? São vários itens sobre o que é "Rock Gaúcho" e escreveste bem e com perspicácia, mas eu iria além do bairrismo e do evento, sendo este item realmente o interessante que marcou a vida de uma geração inteira. Parabéns!

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