sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Defensores do diploma se reúnem


Pois então...fui na audiência pública da Câmara sobre a não obrigatoriedade do diploma em jornalismo que aconteceu na quinta-feira à noite. Plenário lotado de estudantes da UFSM e Unifra, além de professores dos dois cursos de Jornalismo da cidade. Acho que são os mais interessados no assunto mesmo. Na mesa principal estavam o deputado Paulo Pimenta, a vereadora Helen, representantes estudantis da UFSM e Unifra, coordenadores dos dois cursos, o presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS, José Carlos Nunes, a representante local, Elisa Pereira e outras presenças nem tão necessárias como uma integrante do DCE da UFSM e um integrante do DCE da Fames (NADA a ver).
Pimenta é autor da PEC dos jornalista que visa reverter a decisão do STF, tomada no dia 17 de junho. Ele esclareceu que até agora a decisão do Supremo ainda não foi publicada, portanto não há como entrar com recurso judicial. Também por causa disso, todos os registros profissionais estão suspensos por enquanto. O deputado acredita que a PEC seja votada ainda nesse semestre. São necessárias duas votações na Câmara e duas no Senado. Achei ele superotimista. Eu não acredito que a proposta seja votada esse ano...
Para a professora Rosana Zucolo, da Unifra, a mobilização que está acontecendo agora poderia ter ocorrido antes da votação no STF, inclusive para evitar a decisão tomada pelos ministros.
Na opinião de Nunes, o momento é de fortalecer o Sindicato. Ele também salientou que continuam valendo as cinco horas de jornada, o piso salarial e o registro profissional. "O que o STF fez foi ratificar uma decisão de uma juíza que disse não à educação. Defendemos a qualificação profissional, uma formação de qualidade. Mas ficamos sozinhos. Houve uma mobilização anterior, mas ela não chegou à sociedade".
Para o professor Rondon de Castro, da UFSM, a perda do diploma é apenas o começo de uma série de fatos que poderão vir a resultar na retirada de outras conquistas do jornalista como a jornada de trabalho e o piso salarial. Rondon ainda afirmou que a decisão do STF significou um "ataque à Universidade" e criticou a interferência do mercado nas instituições de ensino superior. "Estão exigindo que a gente forme mão-de-obra especializada e barata para eles (mercado)", afirmou, citando o jornalista multimídia como exemplo de formatação do aluno para o mercado. Rondon ainda disse que até hoje não ouviu ninguém defender a decisão do STF. Olha, professor, eu já ouvi e li textos muito bons defendendo a não obrigatoriedade do diploma. A professora da UFRJ, Ivana Bentes, é um exemplo de pesquisadora que argumenta muito bem sua posição contra o diploma. E ela é professora do curso de Comunicação. "Nós apresentamos os melhores argumentos", destacou Rondon. Discordo. Não ouvi grandes argumentos na audiência a favor da formação universitária. De ninguém. Não me explicaram ainda o que é uma informação de qualidade e porque ela está atrelada a um diploma. No entanto, concordo com Rondon quando ele diz que a decisão enfraquece o jornalismo além de reforçar ainda mais o subemprego.

Eu também não gostei dessa decisão do Supremo. Só que não fiquei tão histérica como alguns colegas e li bons textos tanto dos favoráveis como dos contrários. Fiz a faculdade e a considero importante, mas minha formação teve outras fontes. Como disse um colega jornalista: curiosidade, inteligência e sagacidade não se aprendem na faculdade. É óbvio que não é tão simples assim, mas é uma discussão complexa mesmo. Valeu a audiência; é bom discutir os problemas do jornalismo e dos jornalistas.

A fotografia é da Assessoria de Imprensa da Câmara

4 comentários:

  1. Concordo em gênero, número e grau. Aliás, pra ser sincero [e me incluo dentre os jornalistas formados, registrados, sindicalizados e contrários à exigência do diploma!] os argumentos alinhados/ alinhavados na audiência pública, a meu ver, não se pautaram pela racionalidade, o que depõe contra sua análise.
    Em momento algum foi mencionado que em 99% do mundo tal diploma não é condição sine qua non para o exercício do jornalismo.
    E, para não alongar, como explicar tantos semi-analfabeto diplomado nas mais de 500 faculdades de Jornalismo que existem no Brasil?
    Por fim, reivindicar que eticidade depende de UM semestre da correlata disciplina, é zombar da inteligência alheia.
    Integridade [conceito muito mais amplo e abrangente] resulta de um número amplo de causações, sendo a menor delas cursar ou não uma disciplina pertinente.
    Além do que, considerados leitores/ouvintes/especadores/internautas que não tenham "estudado" Ética, configurar-se-ia uma situação digna de Kafka: como poderiam estes auferir tal ética, se não teriam-na estudado de modo a poder fazer qualquer crítica de juízo?
    []z

    ResponderExcluir
  2. Fiquei com um baita receio de ir nessa audiência por achar que estaria participando mais de um evento político em prol de um certo deputado do que de uma real discussão sobre o diploma de jornalista. Mas pelo visto o meu receio era bobagem, não?

    De qualquer forma, é triste de ver que boa parte dos argumentos pra defender a obrigatoriedade do diploma descambam para o corporativismo exagerado. Me fazem até ter vergonha de defender a questão. Talvez um debate que tocasse em outros aspectos, tipo a qualidade do jornalismo e a especificidade da prática jornalística, seria mais produtivo.

    Mas, por outro lado, se tá todo mundo se fodendo pros jornalistas,quem a não ser nós temos que defender a (indefensável) classe?

    ResponderExcluir
  3. Olha gente...talvez não se aprenda ética na faculdade, mas trabalhei num jornal local onde, não sei se por coincidência, o jornalista que não tinha formação universitária não tinha noção de ética e fazia umas merdas...Sobre a ética, acredito que a Faculdade dá uma noção sim.
    Leonardo, você estava certo até certo ponto sim. A audiência foi um evento político sim. E o deputado, é claro, teve muitos ganhos políticos. Mas eu não restringiria a discussão a isso. Realmente, é uma discussão corporativista; e acho que somos nós mesmos que temos interesse nisso. É por isso que, como disse um colega meu, seria bom se os próprios jornalistas se regulassem e não o Estado.

    ResponderExcluir
  4. Ainda falando sobre ética, o pior comentário foi o da coordenadora da UNIFRA. Segundo ela, "um médico que se tornasse jornalista nunca entregaria um companheiro, assim como um engenheiro, um dentista, advogado e tantos outros na mesma situação. Porque? Porque diferente de nós, jornalistas, eles têm um senso de coorporação, de classe, mais consolidado!"
    O absurdo transborda da boca dessa mulher! Ou ela tinha tomado um remédio pra labirintite ou não pensou nem por um segundo no que disse. Segundo a professora, o diploma de jornalismo não é essencial apenas ao Jornalismo, mas para a prática de qualquer profissão, assim terminando com a corrupção, já que de alguma forma, caráter é aprendido na faculdade! Ou ainda, que independente da faculdade, quando formos uma classe unida, não mais denunciaremos nossos pares corruptos! Seremos companheiros - na lama, mas unidos.

    belezinha!

    ResponderExcluir