segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Julgamentos

Ótimo texto do blog de Luis Nassif, publicado ontem, sobre a história do italiano acusado de pedofilia por um casal que afirma que ele estava fazendo carícias impróprias na filha de oito anos, num balneário em Fortaleza (CE), no dia dois de setembro. Vi uma matéria sobre o episódio no Jornal Hoje, da Globo, de sexta-feira, eu acho, e achei a reportagem muito estranha, ambígua mesmo. Várias pessoas estavam presentes, mas somente duas acharam que o estrangeiro estava abusando da menina. A matéria deixou a dúvida no ar, mas deu destaque ao depoimento de uma testemunha que reafirmava o crime de pedofilia.
Entre outras coisas, o blog diz o seguinte:
O italiano estava na piscina com a filha, a esposa e amigos. Foi delatado por um casal - que a televisão protegeu, não identificando, do mesmo modo como se protege a quem delata grandes criminosos. Não se tratava de nenhum ato oculto, dissimulado. O pai estava fazendo carinhos em um local público. Todas as testemunhas que assistiram não viram nenhum sinal de libidinagem. Prevaleceu o julgamento moral de dois deformados, que viram sinais de luxúria onde todos os demais viram sinais de carinho paterno, que apresentaram como prova dois beijos que o pai deu na filha no intervalo de 30 minutos. Pinçando o que saiu nos jornais, pinçando mesmo, porque nenhum teve a coragem de ir a fundo investigar as razões dessas testemunhas, fica claro o somatório de detalhes que alimentou seu preconceito: o pai é italiano; a mãe uma negra brasileira; a filha, uma mulata. De 8 anos. É impossível um pai branco ter carinho por uma filha mulata. O preconceito era contra a filha.De nada adiantaram os atenuantes, de nada adiantaram as demais testemunhas negando terem visto qualquer ato malicioso. A malícia está na cabeça dos pervertidos. A juíza terceirizou o julgamento moral e permitiu a prisão do pai, permitiu que ele fosse arrancado do convívio da família e jogado num xadrez, diz Nassif no texto A Psicologia da Delação.

É...não precisa dizer mais nada.

Um comentário:

  1. Silvana isso é assustador. Todos abominamos a pedofilia mas é preciso cuidado para que não se passe a reprimir manifestações sinceras de afeto. Isso me faz lembrar o que Franco Berardi fala da infância: do processo de dessencibilização pela qual as pessoas estão sendo criadas e ele analisa que isso leva à deserotização e, como consequência, ausência de empatia em relação aos outros.( e é bom não confindir aqui erótico com sexo mas no sentido de percepção do corpo seu e do outro, de afetar e ser afetado) E a empatia é fundamental para que a gente se coloque no lugar do outro, para que a gente sinta compaixão e exerça a solidariedade, a caridade. É fundamental abraçar, beijar, tocar e é possível fazer isso sem que seja ato libidinoso. O problema é a "sujeira" que pode ter na cabeça de alguns que olham. Mas não ´podemos admitir a paranóia. Uma loucura esse relato! Esse é um debate necessário e fundamental. Tereza

    ResponderExcluir