domingo, 10 de outubro de 2010

Mídia e eleições em debate na UNIFRA

Momento corporativista. Assuntos jornalísticos. Parte 2. Parabéns pra mim que não consigo atualizar o blog no mesmo dia dos eventos que eu vou e deixo pra fazer isso uma semana depois.

Mas eu preciso registrar algo sobre o debate Mídia e Eleições que aconteceu na quarta-feira à noite, na UNIFRA.
Para uma plateia de professores do curso de Jornalismo da UNIFRA e alunos no início do curso, o professor de sociologia, Reginaldo Perez, iniciou sua fala dizendo que estava ali para provocar. E foi o que ele fez. Chamou os jornalistas de lixeiros de plantão, de ingênuos, disse que o campo do jornalismo é uma máquina de moer gente onde os jornalistas têm duas opções: ou se adaptam à realidade ou caem fora.
O assunto imprensa e a revista Veja obviamente surgiram na discussão. Perez contou que estuda a revista há 24 anos. Mostrou capas da Veja veiculadas durante a eleição. Capas consideradas descritivas (sem ataques diretos), e capas fortes, acusatórias, opinativas e claramente posicionadas politicamente, como o caso Erenice Guerra. "Do ponto de vista político, a Veja é mais importante que toda a imprensa escrita junta. Nenhum meio conseguiu produzir agenda como a VEJA, inclusive agenda televisiva". Pior que isso é verdade. E que a Veja é um panfleto político, que faz desjornalismo e que representa um desserviço ao País também é verdade, mesmo que Perez considere isso normal, natural ou "parte do sistema".

Quem também falou sobre jornalismo político foi o assessor de imprensa de Pimenta, Ricardo Lopes. A polarização Serra x Dilma, as pesquisas eleitorais e a internet foram escolhidos por ele como os três destaques dessa eleição. Sobre as pesquisas, Lopes comentou que quando Dilma liderava os números, a grande imprensa começou a dar espaço à Marina Silva como via alternativa e criou uma artificial pauta ambiental. Além disso, o editorial do Estadão declarando apoio a José Serra também marcou a campanha. A Folha de S.Paulo não fez isso porque ainda faz questão de manter a máscara de uma parcialidade. Falsa, óbvio. "O jornalismo impresso não tem mais a força que tinha embora ainda tenha força no agendamento político". O jornalista também citou as séries de reportagens como a do Jornal Nacional. Para ele, as matérias do telejornal mostraram cidades e situações como se estas representassem todo o País. É. Concordo. Estas séries de reportagens sobre o País nunca são de graça. Mesmo assim, não posso opinar porque não vi nenhuma.
Sobre a internet, Ricardo disse que ela ainda não está totalmente consolidada devido à "falta de credibilidade" em relação aos meios tradicionais, por exemplo. Bom. Discordo totalmente dessa afirmação do Ricardo. Aliás, não suporto esse papo de dizer que a "internet não tem credibilidade", mas isso fica pra outro post.
Aliás, quem falou sobre a potencialidade dos blogs, Twitter e redes sociais nas eleições foi o jornalista Fritz Nunes. Segundo Fritz, estes meios produzem hoje leituras críticas e debate sobre os principais assuntos do País. Afirmou que realmente existe posicionamento político por parte dos grandes meios de comunicação, mas que a imprensa não pode agendar assuntos baseada em artificialismos e factóides. "A internet dispõe de meios que permitem uma leitura mais aprofundada que não existe na mídia tradicional"

Depois das primeiras falas, veio a parte mais polêmica do debate. Uma jornalista da plateia comentou sobre a questão do posicionamento da mídia, criticou o discurso panfletário e sacana da revista Veja e perguntou a opinião dos debatedores.
Apesar de ter sido muito indelicado com a jornalista, o professor Reginaldo Perez disse coisas interessantes. Afirmou que não existe discurso neutro, pois a própria linguagem em sua natureza não é neutra, e destacou que os jornalistas não podem ser ingênuos de achar que eles têm uma "missão" salvadora do mundo. Ou os jornalistas operam dentro do sistema e da realidade que estão aí ou caem fora. Para o professor, não existe outro jornalismo a não ser o que se vivencia agora.
Mais ou menos né, professor. Porque essa visão leva em conta somente o mercado de trabalho empresarial. Como muito bem frisou a professora Liliane Brignol, esse discurso de "podridão do sistema" considera a mídia de um ponto de vista homogêneo e não leva em conta todo o movimento da internet e as novas formas de jornalismo que tem se desenvolvido por aí.

Enfim, foi bem interessante o debate. Meu texto talvez tenha ficado meio confuso, por isso recomendo a matéria da Matéria da Agência Central Sul de Notícias da Unifra, que ficou bem melhor. Está aqui.
A foto é de Pedro H. Porto, gentilmente enviada para mim pela professora Sione Gomes.

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