sexta-feira, 7 de maio de 2010

bullying...e um trauma de infância...

Não lembro que idade eu tinha. Talvez uns nove ou dez anos. Uma criança que não se metia em brigas, mas que talvez fosse um pouco má. Ela tinha uns 13 ou 14, eu acho...Era grandona, forte, brava...mais velha que os colegas...mais vivida...mais sofrida...
Tudo começou por causa de uma brincadeira de bobinho na escola. Bolada daqui, bolada dali, me irritei com alguma coisa e, como estava aprendendo a usar os palavrões, aquilo saiu naturalmente da minha boca: "Sua filha da puta". Silêncio. Tensão. A guria a quem eu dirigi o xingamento ficou séria e o revide, verbal, também veio naturalmente: "Eu te pego na hora da saída". Nem dei bola. Essa frase era a mais ouvida da escola. Na hora da saída, tudo podia acontecer. Até nada. E nada aconteceu mesmo. Saí da escola meio receosa, mas me embolei no meio das crias e fui embora sem ser incomodada pela louca.Não poderia imaginar o que estava por vir. The day after.
No dia seguinte, rotina normal, tomar café com o Pedro e a Lúcia, pegar o ônibus e ir para a escola, que ficava a uns 20 km de casa. Só que o ônibus não parava na frente da escola. Tínhamos que caminhar uma quadra pra chegar ao portão de acesso. A Lúcia estudava em outra escola, então quem descia comigo era o Pedro.
Desci do ônibus. E eis que eu a enxergo, na frente do portão, com cara de poucos amigos...Esperta, ela planejou me pegar fora da escola...

Medo, medo, muito medo...Tô ferrada, pensei na hora. Estou a uma quadra da escola, não tem ninguém na rua. Já era. Vai me arrebentar. O pior não foi vê-la se aproximando, caminhando no meio da rua, com os punhos fechados, tipo filme de faroeste. O pior foi ver o Pedro acelerando, indo na minha frente com seus passinhos rápidos e sua mochilinha. Simplesmente, meu irmão me abandonou a minha própria sorte...Na minha lembrança ele estava com cara de assustado, mas acho que eu inventei essa memória para não ficar com raiva dele. O Pedro devia estar rindo e pensando: "se fudeu, hahaha". E eu fiquei sozinha, olhando a platéia de gurizadinha ao fundo...
E a guria vinha que vinha...Ela vai me destruir, pensei. Eu não tinha como competir. Ela era o dobro do meu tamanho, usava calça jeans justa e já tinha seios e tudo. E eu era uma pirralha esquelética que nunca tinha brigado com ninguém a não com meus irmãos...
Pelo menos foi rápido. Ela puxou o meu supercabelo com todas as suas forças e disse olhando para mim: "Tu nunca mais chama minha mãe de puta senão eu te arrebendo, ouviu?''. Puxou meus cabelos até eu cair no chão. Doeu. E na hora eu percebi que ela realmente tinha se ofendido por causa da mãe dela. Talvez a mãe dela fosse mesmo puta e por isso ela ficou tão de cara...não sei...
Eu não me lembro se chorei...Acho que não contei para os professores ou para meus pais. Fiquei quietinha, mas não foi muito legal ver a gurizada rindo de mim...meio traumático mesmo...coisas da escola, lugar que não me traz lembranças muito agradáveis...

9 comentários:

  1. É doloroso para mim ler teu relato, bem esctrito, de uma situação de desproteção vivida na tua adolescencia. Foi muuito sofrido e ficou muito marcada na tua memória, pelos detalhes descritos. Mas nada de magoas e ressentimentos.Serve para mim tambem que como pai não te protegi..vamos em frente.

    ResponderExcluir
  2. Quando vocês eram pequenos eu imaginava coisas assim acontecerem e chorava e temia, por sentir que nem sempre eu poderia evitar os sofrimentos de vocês. E me doeu agora ao ler teu relato. Fico triste por não teres nos contado e me pergunto por que. Será que imaginavas que íamos te repreender? Não confiavas em nós? Penso que talvez isso ou outras razões. Sempre fostes muito reservada, desde menina. Como eu dizia eu sofria ao perceber que haviam mil perigos a ameaçar os filhos, mas eu pensava que eu precisava encarar que eu não era melhor que ninguém e que, coisas sofridas poderiam acontecer com meus filhos. Era preciso acreditar na vida, na capacidade de aprender de cada um. Ainda hoje, sinto meu coração apertado quando penso nos perigos da noite, do trânsito, da violência contra as mulheres, na loucura coletiva que ameaça a vida todos os dias. Ainda hoje invade-me uma enorme vontade de proteger, de saber como está o coração de vocês, mas fico no meu silêncio, com meu coração apertado e sinto, também, uma enorme alegria de te-los em minha vida e uma enorme confiança em vocês. Chorei ao ler teu texto,tão bem escrito, a ponto de vislumbrar o local onde aconteceu e de sentir o que deves ter sentido. E saber que tantas crianças passam por isso...

    ResponderExcluir
  3. Li pesquisa recente na qual ficou constatada estatisticamente que :
    a)- gastamos 80 % do nosso tempo falando, lembrando, contando, etc...coisas do nosso passado;
    b)- 15 % do nosso tempo gastamos planejando nosso futuro;
    c)- apenas 5 % falando sobre o nosso HOJE.

    Pensemos :

    a) gastar muita energia e tempo com o passado vai gerar remorso, ou melancolia, ou saudade...e nós não temos poder algum de modificar o passado;

    b)- gastar tempo e energia com o futuro é mera ficção científica, coisa fantasiosa...porque não temos poder algum de prever, não temos poder sobre o amanhã, nem ao menos sabemos se estaremos vivos na semana que vem;

    c)- só temos poder mesmo, real, palpável, verídico é sobre o PRESENTE, sobre hoje...now, here...e gastamos apenas 5% das nossas horas sobre ele.

    Claro, podemos planejar o futuro, recordar coisas do passado. Mas as coisas melancólicas que ocorreram no passado devem ser exorcizadas. Estão no bau do inconsciente e, às vezes, se transformam me monstrinhos que vêm prá fora nos atormentar, coisas mal resolvidas.

    Eu aprendi a vomitar essas coisas todas, botar prá fora, seja escrevendo (como tão bem fez a Silvana neste texto), seja partilhando com pessoas da minha intimidade. Fiz isso muito tempo durante os quase 10 anos de terapia semanal. E consegui me livrar de quase tudo que me incomodava.
    Eu mesmo, enquanto pai, por mais força que tenha feito pra acertar, também errei muito. A gente é pai muito moço. Com 24 anos eu já tinha 3 filhos. Praticamente eu e minha mulher crescemos com eles. Erramos, sim ! Mas foi por inexperiência. Nunca por vontade de ferir.

    Eu mesmo, quando estudava no então Grupo Escolar João Belém, com meus 9 ou 10 anos tremia de medo dum colega queme perseguia, me chamando de puxa-saco porque eu tirava 10 em tudo e ele era um reconhecido vadio. Meu pai me dizia que se eu apanhasse na rua eu apanharia de novo em casa...conceito machista vigente na época. Mas eram os "valores" da época.

    Mas a terapia e a maturidade nos ensina que, com erros ou sem erros, nós somos o que somos, e temos os pais que temos. O filósofo espanhol já nos avisava : "nós somos nós e as nossas circunstâncias".

    Irineu e mamãe : nada de sentimentos da culpa, nada de perder tempo com coisas do passado. Tem de valorizar a bela e inteligente filha que vocês têm e que - graças a episódios iguais a este narrado por ela - se transformou numa mulher independente.

    Vamos viver e gozar o HOJE. E hoje é dia de comemorar as mães. Comoremos as nossas !

    Beijo

    James Pizarro

    ResponderExcluir
  4. Certo Jaime. Obrigada plea "bela e inteligente filha". Sentimos muito orgulho dessa nossa filha. Beijos

    ResponderExcluir
  5. Silvana, ao ler teu texto lembrei dos meus bons e maus momentos da época de escola. Também enfrentava preconceito de alguns colegas, por morar longe da escola, em um bairro, na época, rural, por ser uma das mais baixinhas da sala (haha) e por aí vai. Hoje penso que enfrentar as brincadeiras de mau gosto e até os tapas, no recreio, nos faz mais fortes, enfim, faz parte da trajetória de cada um. Não que eu defenda que todos precisem sofrer com as "maldades" dos colegas, porém, vejo, que nada me fez melhor ou pior. É bom saber que, mesmo naqueles tempos, já tinha a essência, enraizada do que sou hoje. E meus pais também não sabiam dos meus episódios escolares, eu, não sei porque, não contava. Acho que já queria me virar sozinha, desde aquela época.
    Bem, aproveito o teu blog para desejar feliz dia das mães às mamães leitoras. Espero ano que vem, já estar sendo parabenizada pela data também (rsrs)
    Abraços
    Fabi Machado

    ResponderExcluir
  6. Não parece, Sil, mas sou pra lá de emotivo, choro até em volta olímpica do time adversário (não cnta pra ninguém, não.. hehehe). O diabo que é que vcê me emocionou. Meeeeesmoooo... Abraço e beijo supercarinhosos. E parabéns pela coragem.

    ResponderExcluir
  7. Esse post era para ser engraçado, gente!! Hoje eu dou risada disso tudo!!

    ResponderExcluir
  8. Oi Sil... emoção é pouco... sua intenção era para ser engraçado mesmo... mas pai e mãe ao se defrontarem com as vivências dos filhos... não tem... dói em nós... sei bem... espero ter pensado em tudo para proteger meus filhos... quando menos espero eles passam por frustrações... que fazem parte da vida... ensina como nenhuma outra coisa... e a vida é assim... mas mãe é mãe... se pudessemos tínhamos os filhos em redomas de vidro para nada doer, dar medo, ferir... acho que os pais pensem diferente... e por isso o equilíbrio familiar... mas mãe é mãe... o machucado, o tombo, a dor de barriga, a dor de amor... doe em nós... dá um frio na barriga... e ficar sabendo depois... dá remorço... se tivessemos protegido mais... se tivessemos mais atentos... mas não liga... ao mesmo tempo temos a certeza que os fizemos fortes o suficiente... firmes o suficiente... feliz da mãe que tem orgulho do filho... como a tua... parabéns Dona Tereza... foi cada uma das experiências de vida que fizeram a Silvanna tão especial...

    Para todas as outras mães... FELIZ DIAS DAS MÃES...

    Grande beijo amiga...

    Fabiana Pereira

    ResponderExcluir
  9. Fabi, querida!!! Fiquei muito feliz por ler teu comentário! Saudades tuas...Tenho certeza que a Bianca e o Pedro estão muito bem protegidos por vcs. Feliz Dia das Mães pra ti também...

    ResponderExcluir