segunda-feira, 1 de junho de 2009

Imagens chocantes


Vejam esta fotografia ao lado. É uma foto artística? É uma foto promocional de um filme de "infectados", ou morto-vivos do Danny Boyle? Já sei. É a guria que faz o Exorcista. Não! É a foto que saiu hoje nos jornais da RBS, na página central do Diário de Santa Maria, sobre a campanha contra o crack: "Crack. Nem Pensar".
Uma modelo, rosto perfeitinho, maltratada pelo crack. Uma imagem chocante, realmente. Ai, meu pai. Por acaso esta fotografia passa alguma sensação de realidade? É para assustar isso? Esta guria da foto está mais para adolescente emo de castigo do que para viciada em crack, por favor!
Talvez ela seja a representação de uma filha de um granfino que se viciou em crack. Só pode ser piada. A classe média alta gaúcha deve usar drogas mais sofisticadas. Ai, Silvana. A campanha quer mostrar que o crack atinge todas as classes, todas as pessoas, toda a sociedade. Aham.
É desse jeito que vamos combater o crack? Sim, é um problema sério; sou favorável ao envolvimento das instituições em políticas que possam trazer soluções. Mas me pergunto qual seria o objetivo dessas campanhas. As chamados do rádio são ridículas.
Como fugir de campanhas estereotipadas como essas? Como tratar um tema sério como esse? Colocando pessoas nitidamente maquiadas para mostrar uma falsa decadência dos viciados em crack?
De verdade, tenho dúvidas, muitas dúvidas.

13 comentários:

  1. Oi Sil,

    Já é sintomático que a própria chamada da campanha convoca a NÃO PENSAR. Quando TORNAR PENSÁVEL e aí sim olhar para os problemas ligados ao crack se faz o grande desafio: ou seja, como afinal o proibicionismo generalizado e a criminalização das ditas drogas leves cria e criou todas as condições para o surgimento e aprofundamento do mercado do crack, por exemplo?! Como o tráfico ganha oxigênio quando falta investimento em prevenção e em vez disso se trata caso de saúde pública como caso de polícia e, ainda mais a saúde pública sendo sucateada ("responsabilidade" fiscal como desculpa para serviço zero! E isso em todas as áreas!), outro exemplo de problema seríssimo que está diretamente ligado ao anterior e deveria sim é ser PENSADO, etc. Bom que tenhas tocado no assunto! Parabéns! É isso aí, PENSAR SIM! Ainda que não se queira que se pense sobre certos temas e problemas...

    ResponderExcluir
  2. Então é oreciso pensar mesmo. Pensar na sociedade que temos e vivemos, quando quase todos nós somos automedicados ou temos receitas médicas anti-pânico, anti~depressivos, todos tarjas pretas permitidos ,legalizdos .Para os jovens rebeldes, ricos, pobres, negros,desocupados,inconformados lhes é oferecido o craK.È funcional ao sistema a existência do crak, para eliminar parte do potencial de resistência dos inconformados.È no mínimo cretinisse ou canalhice a RBS liderar tal campanha quando ela por uma comunicação parcial, aliada aos grandes grupos economicos responsáveis pela concentração de renda, faz aumentar o abismo que nos separa de uma vida digna e feliz.Também por isso é preciso... " nem pensar" Vamos ao debate que pensa.

    ResponderExcluir
  3. O que é lamentável de empresas como a RBS, que mantém monopólios nas suas regiões de atuação, é que algo só é um grande problema, quando é considerado por esta empresa um grande problema. A assembléia vem tratando do crack desde o ano passado, fazendo muitas reuniões e tomando decisões importantes, entretanto nunca vi uma linha em jornal nenhum da RBS...

    Agora com essa campanha talvez se publique algo...

    ResponderExcluir
  4. Sim, Willian, tens razão. Eles é que se pautam. No fim, acaba sendo muito mais uma estratégia para promover o próprio grupo do que uma preocupação real mesmo. Como vc disse, é um problema porque agora eles definiram assim.

    ResponderExcluir
  5. Mas Silvana, quem é que decide a pauta de uma empresa jornalistica? Não é a própria empresa? (E quem mais deveria ser?)Mas a questão é mais séria - uma campanha pode trazer benefícios para todos (mesmo que a intenção seja sensibilizar apenas uma parte, creio que a parte que pode ajudar, não é?) ou pode resultar em nada, é verdade. Eu não entendo qual o mal que pode trazer - se houver um aspecto negativo numa campanha contra o crack quero ouvir mesmo. O que acontece com excesso de "ombudsman" (ver comentários acima)é a relativização de um problema grave; ou seja, não ajudam e ainda atrapalham.

    Vinicius Sanfelice

    ResponderExcluir
  6. Vinicius...bons apontamentos os teus. Quando falei que que a empresa se pauta, quis dizer que os jornalistas não mais trazem pautas das ruas, ou seja, apuram coisas que vem de fora, demandas, etc; ao invés disso, os jornalistas saem da redação com uma pauta já formada, e vão para a rua somente para confirmar algo que já está determinado por eles. Foi nesse sentido o meu comentário, pois o William disse acima que a assembléia já vinha discutindo o problema sem que isso fosse noticiado. Tua crítica de excesso de ombudsman é pertinente. Sim, estou relativizando o problema; Não disse que a campanha faz mal a alguém. Só questionei os métodos, as imagens, o tipo de discurso empregado. Talvez a imagem da menina possa sensibilizar outras pessoas, sim; mas talvez seja risível para outras.
    obrigada pelo interessante comentário

    ResponderExcluir
  7. Concordei contigo, Sil! Muito nítida e metaforicamente maquiada essa campanha, se é que me entendes.

    ResponderExcluir
  8. Sil. Esta campanha parece "preparada" para que o grupo empresarial receba aqueles prêmios de responsabilidade social. O pior é assistir aos comentários despreparados de apresentadores, como a Cristina Ranzolin, sobre o assunto. Na real: parece que estão brincando de fazer jornalismo com coisa muita séria

    ResponderExcluir
  9. Vinicius!
    Reli o que a Silvana escreveu, li os comentários postados aqui e tenho de discordar no mínimo de dois pontos do que escreveste:

    *Que mal pode trazer uma campanha?
    *"relativização de um problema grave?"

    Quando uma campanha ajuda a promover um enfoque pernicioso sobre um problema grave, fazer a crítica é mais que desejável. Fazer a crítica é um modo de PENSARMOS junt@s e ampliar as perspectivas. Não confundindo FAZER mesmo e fazer-de-conta. No meu caso, estou dizendo: há um problema sério com o enfoque proposto na campanha, que é o do amedrontamento e a amplificação da ameaça, como estratégias para INDUZIR CONSENSOS e legitimar soluções repressivas, deslocando o grave problema de saúde pública para a dimensão de problema criminal. Resultado disso: deixa-se de lado o fato de que foi justamente um conjunto de medidas repressivas e uma onda proibicionista (voltada a tratar o problema da drogadição como caso de polícia e não de saúde pública) que criou as condições para que toda a demanda dos usuários de drogas leves fosse encaminhada/deslocada/induzida para o consumo do crack, fazendo não só emergir todo um mercado, mas também, um dispositivo de amedrontamento da sociedade, de legitimação da ordem repressiva, a mobilização de uma demanda por mais "polícia", mais "segurança" e mais "controle". O crack acaba por incluir camadas mais precárias da população em um mercado muito dinâmico, na figura de consumidores "fiéis" a um nicho e, com isso, mantém aquecido esse mesmo mercado. Com o plus de fazer desses consumidores uma camada que "voluntariamente" aderiu àquilo que foi induzida: o previsível auto-extermínio, o descarte d@s indesejáveis para quem tem uma visão proibicionista e policialesca de mundo, os moralistas a adeptos das doutrinas repressivas, etc.
    Acaso?! Dá pra seguir no aprofundamento da lógica repressiva?! É isso mesmo que se quer?! Sendo séria e de boas intenções a política pública voltada para a drogadição, não parece desastrosa demais para ser aprofundada nesse enfoque que tem produzido esses efeitos e não os desejáveis?! O problema da drogadição associado à medicalização da sociedade e a exploraçào mercantil que as corporações farmacêuticas exercem não deveria ser discutida também?! Etc.
    Estou relativizando algo aqui Vinicius?! É isso?!
    Esses problemas, irredutíveis e GRAVÍSSIMOS, de minha perspectiva ao menos, são os que estão sendo levantados em várias discusões bem sérias que os agentes de saúde, por exemplo, estão efetuando. A produção de políticas pública adequadas não deveria ser induzida pela histeria e pela pouca discussão democrática e pública que os temas em questão merecem... e que o amedrontamento só faz impedir!
    Um abraço! Sigamos.

    leonardo

    ResponderExcluir
  10. Sim, está relativizando. A campanha nasce de um problema da criminalidade, que, mais ou menos guiada para uma conclusão qualquer, é um fato. Não é uma opinião, aumentam os crimes relacionados ao consumo (que é crime, o que também é fato) de crack. Que também seja um problema de saúde pública nós concordamos. Mas a criminalidade não é problema de saúde pública. O teu texto é baseado no argumento que a criminalização das drogas leves levou ao consumo de crack - você acredita nisso sem dúvida, mas é uma tese, talvez apenas uma opinião (não é um fato).

    "na figura de consumidores "fiéis" a um nicho e, com isso, mantém aquecido esse mesmo mercado"
    Acrescento que sua retórica tem o mesmo objetivo da imagem da menina - pretende algo diverso, mas tenta seduzir o outro a aceitar uma maquiagem dos fatos: reafirmo que não sei de possível mal que a campanha pode causar; seu discurso "esquece" que consumidor de de produto ilegal é criminoso (criminoso e doente, você pode acrescentar) e fidelidade ao crack chama-se vício.
    Não vejo problema algum em aumento de policiamento.
    Desculpe pela demora em responder, continuemos, abraço.

    Vinicius Sanfelice

    ResponderExcluir
  11. Caro Vinicius,

    Para avançarmos nessa coversa sobre o assunto remeto inicialmente à exposição "Saúde mental e o uso de crack em Santa Maria" do químico e professor Guilherme Carlos Corrêa em:
    http://www.youtube.com/watch?v=18lzg0BVbgQ/

    e

    http://www.youtube.com/watch?v=QEFj46V_cLY&feature=related/

    etc., tem mais partes necessárias que complementam a exposição (mas como o copiar e colar não está me ajudando aqui, entrando no primeiro vídeo se chega aos demais!).

    Por ora apenas sugiro que assistas... Volto à nossa conversa logo mais.

    Um abraço!

    leonardo

    ResponderExcluir
  12. Assisti os vídeos. Mas há uma confusão aqui: você está falando em "pensar" o problema (sem objetividade) e o professor Corrêa está fazendo má sociologia, de forma rasteira, como se fosse o Paulo Coelho, usando mais pedagogia de beira de estrada que fatos.
    Leonardo, entendo o que é visão progressista da sociedade - mas essa mistura de marxismo e foucalt me parece passada. Eu não tenho nenhum interesse de ver as coisas com essa iconoclastia ingênua (se fisga os doutores, tanto pior para nós). Estou sendo simples (não simplista)quando afirmo que o problema da criminalidade pode ser resolvido com mais policia, o dos doentes, com mais saúde, assim por diante; a idéia que tudo deva ser repensado (e transformado) é um tremendo cadáver.
    Vinicius Sanfelice

    ResponderExcluir
  13. Tem só uns probleminhas nisso tudo:
    1)A empresa joranalistica (no caso RBS) que coloca uma campanha como essas em curso não pode abordar sob o seu ponto de vista simplório simplesmente. É certo que historicamente tem feito, mas LEMBREMOS, esses veículos são concessões públicas e tem monopólio da transmissão televisa. Devem prestar contas ao público e aos leitores-pagantes que sustetam esses veículos.

    2)Se o problema do Crack chegou a uma situação insustentável com a que encontramos foi porque visões OBJETIVAS como a do Vinicius "criminalidade: mais polícia/doentes: mais hospitais" foram irresponsavelmente difundidas por grupos como o da RBS. Isso é FATO.

    3)Ninguém elegeu (eu pelo menos nunca votei) na Cristina Ranzolin, Rosane e cia. pra ficar ditando como devem ser as políticas de segurança e saúde públicas. É assunto muito sério, que envolve muitas vidas, pra ser tratado por visão minúscula, simplista e anti-democrática de empresa jornalística corporativa. Que falem sobre o tempo, sobre economia, sobre as festas de auto-promoção do circulo comercial, sobre roupas, viajens e toda e qualquer porcaria que a "empresa" queira falar e deixe de "tentar fazer o bem para os outros" com essas campanhas lamentáveis.

    E vou ser bem objetiva também: Com certeza a não existência de qualquer campanha vai ser sempre melhor que a existência de campanha promovida pelo jornalismo de empresa corporativa-antidemocrática!!! Isso eu posso afirmar que é FATO. É uma afirmação simples, mas não simplória. Pergunte pra qualquer educador social/agente de saúde sério que lida efetivamente com o público afetado pelo crack..
    Tchau
    Lúcia

    ResponderExcluir